A frase que dá título a este texto é extraída da homilia de Sua Santidade o Papa Francisco proferida na missa de Ângelus celebrada na Basílica de São Pedro, no passado Domingo. Perante uma multidão de fiéis que preenchia a Praça de São Pedro, com a firmeza das suas convicções, mas com a serenidade de quem sente que está a cumprir os seus desígnios a favor da humanidade, o Sumo Pontífice apelou aos “Césares” deste mundo para que pratiquem políticas pacifistas, assentes no diálogo e no respeito mútuo, em detrimento dos actos bélicos que devastam cidades inteiras, matando cobardemente milhares de pessoas inocentes, entre as quais crianças, doentes e idosos.

No fundamental desta exortação aos “donos do mundo” o Papa Francisco cumpre o seu propósito de fomentar o estabelecimento de pontes entre os desavindos, aconselhando o exercício diplomático da superação desses mesmos conflitos por intermédio de gestos de paz.

Orando pelos que mais sofrem, os que são diariamente vítimas da guerra e do terrorismo, pelos seus familiares e amigos, pelos reféns, pelos feridos e pelos desalojados, o Papa Francisco apela convictamente para que cessem os conflitos que não nos conduzem senão à derrota, pois em nenhuma guerra há vencedores, todos são vencidos. Todos perdem.

A vitória na guerra é algo que nunca se alcança, pois, todos os envolvidos perdem mais do que ganham. Ninguém pode viver feliz tendo consciência de que está a tornar infelizes pessoas cujo único delito é o de terem opinião diferente da opinião dos mais poderosos, ou o de desejarem cumprir a sua vida em termos distintos dos demais.

A guerra é cada vez mais um acto puro de cobardia, que para além do mal que causa às suas vítimas inocentes, constitui a mais eloquente demonstração de como o Homem não é capaz de afirmar as suas convicções senão através da força, da intolerância e da prepotência. Nunca pela via da inteligência, do diálogo ou da razão!

Um mundo em guerra é um mau sítio para se viver! Todos nós – ou pelo menos a maioria de nós – escolhe para viver um espaço onde possa usufruir do bem-estar da natureza, onde consiga desfrutar da harmonia de uma sã convivência com a Família e com os Amigos, e onde tenha a oportunidade de concretizar os seus sonhos, os seus objectivos de vida, individuais e colectivos.

O exercício da guerra é sempre um meio brutal e insensato de prosseguir os objectivos ambiciosos e prepotentes dos seus promotores, desrespeitando o direito à diferença que é legítima a qualquer pessoa ou nação. Cada ser humano é uma entidade única e singular, que desenha o seu devir através de estratégias comuns com vista a alcançar uma vida digna, pacífica e confortável.

Nenhum casal deseja ter filhos para os lançar num mundo em guerra e em conflitos, mas porque aposta num futuro tranquilo e harmonioso, onde os possa ver crescer e progredir social e culturalmente.

O futuro é das crianças, que no tempo certo hão-de fazer a ponte entre os mais velhos e os mais novos, assegurando a continuidade da família, da nação e do mundo.

Como podem os governantes dos países em guerra pôr em causa o futuro das crianças dos países que cobarde e brutalmente atacam?

Como seria infinitamente melhor o mundo se as fortunas que são malbaratadas em armamento e em munições fossem investidos na alimentação, na educação, na formação sócio-cultural dos jovens, na saúde de toda a população e na concretização dos objectivos profissionais ou empresariais de cada cidadão, através da garantia do acesso ao trabalho, como instrumento de geração de riqueza para distribuir pelas populações, de acordo com as suas necessidades!

A guerra é algo que sempre existiu, devido, sobretudo, à imperfeição do ser humano, que não obstante a evolução científica e tecnológica, continua a encarar o mundo à luz dos seus interesses e da sua ganância. Para não recuar muito no tempo, refiro apenas os dois mais recentes conflitos, ainda activos: a invasão e ataque da Federação Russa à Ucrânia, e há cerca de duas semanas o ataque do Hamas a Israel.

A Ucrânia, contando com o apoio militar da União Europeia, dos Estados Unidos da América e de diversos outros países ocidentais, tem logrado suster a invasão russa, porém, para além do elevado número de vítimas mortais, civis e militares, de ambos os lados, há a considerar os milhares de feridos, os milhões de deslocados e a devastação brutal em tantas cidades e vilas ucranianas.

No caso do conflito entre o Hamas e Israel já se contabilizam inúmeras vítimas mortais, feridos, reféns e a prometida retaliação israelita contra tudo quanto mexe do lado da Faixa de Gaza, com ameaças de recrudescerem os ataques aos aliados do grupo terrorista islamita palestiniano, como seja o caso do Hezbollah, o que não deixará de implicar outros países vizinhos, como a Cisjordânia e o Líbano. Do lado de Israel posicionam- se os Estados Unidos da América, a União Europeia e diversos países ocidentais, enquanto a favor do Hamas se posicionam países como a Federação Russa e diversos países muçulmanos, como o caso do Irão e a Palestina.

O Médio Oriente é um autêntico barril de pólvora, com a iminência de o conflito alastrar aos países vizinhos, prolongando o conflito que opõe a Palestina e Israel. Na Europa há, igualmente, o perigo de o conflito entre a Federação Russa e a Ucrânia poder escalar para outros países bálticos, tomando uma proporção regional. Por detrás destes conflitos – como, aliás, de tantos outros ao longo dos tempos! – posicionam-se, por um lado, a Federação Russa (e anteriormente a União Soviética) e do lado oposto os Estados Unidos da América, que agenciam e apoiam os conflitos bélicos, em vez de intermediarem os esforços de paz, nomeadamente através do arbítrio de instituições humanitárias de projecção global.

Quanto não irá custar a recuperação das cidades e das estruturas destruídas por estes conflitos? E os países ou organizações que agora apoiam a Ucrânia ou Israel irão um dia, quando a paz regressar, investir somas astronómicas na reabilitação do que agora ajudam a destruir.

Só as perdas humanas não terão reparação possível, posto que aeroportos, pontes, linhas ferroviárias, portos marítimos, hospitais, escolas e outros equipamentos sociais hão-de um dia ser reparados à custa dos erários públicos dos respectivos países, mas com fortes ajudas estrangeiras.

E, como não poderia deixar de ser, as principais empresas de construção e de obras públicas à escala global hão-de apresentar-se aos concursos internacionais para encherem os bolsos à custa da miséria alheia. E o povo que pague a crise, porque há-de sobrar sempre para os mais pobres, os que mais padecem com a guerra e com a reconstrução das áreas agora devastadas. O mesmo sucederá em relação aos países supostamente vencedores destes conflitos, cujo esforço de guerra será no tempo oportuno agravado com o sacrifício humano e financeiro para sarar as feridas.

Como sabiamente adverte o Papa Francisco – A guerra é sempre uma derrota!

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