Helena Vieira, directora do Agrupamento de Escolas D. Afonso Henriques, em Alcanede, revela os desafios e as estratégias para o novo ano lectivo, destacando o aumento de alunos, a importância da inclusão de estudantes de 21 nacionalidades e os investimentos na digitalização. A responsável sublinha o papel crucial da colaboração entre a comunidade educativa para garantir uma educação de qualidade e preparar os jovens para os desafios do futuro.

Quais são os principais desafios que o seu agrupamento enfrenta no início deste novo ano lectivo? Como estão a ser geridos os recursos humanos e materiais para garantir o normal funcionamento das actividades lectivas?

Com o início de um novo ano lectivo sempre nos deparamos com novos e diversos desafios. Um dos principais, o qual se constitui como muito positivo, é o aumento do número de alunos que frequentam as nossas escolas. Desde a Educação pré-escolar, passando pelo 1.º ciclo até ao 2.º e 3.º ciclo, o número de turmas/grupos tem aumentado todos os anos. Este incremento prende-se com a chegada de imigrantes que tão necessários são às múltiplas empresas da região. Na Escola Básica de Alcanede confrontamo-nos com a necessidade de alargamento da escola, projecto já a decorrer e que desejamos que se concretize no mais curto prazo possível. Na Escola D. Manuel I continuamos a aguardar a construção do Pavilhão Desportivo bem como a requalificação do espaço subjacente ao mesmo.

Um desafio constante, diário e desgastante é a questão dos transportes que não é eficiente, condicionando muito a deslocação dos alunos para as escolas, pela sua escassez, incumprimento de horários e cancelamento de serviços previamente programados. 

O governo implementou recentemente a medida de limitar o uso de telemóveis nas escolas. Qual é a sua opinião sobre esta política e como está a ser aplicada no seu agrupamento? Acredita que terá um impacto positivo no ambiente escolar?

No Regulamento Interno do Agrupamento vem expressamente indicado não ser permitido o uso de telemóvel e que as escolas não se responsabilizam por estes no espaço escolar. Contudo, e apesar desta recomendação, os alunos mais velhos não deixam de os trazer para a escola. Sabem que não o podem usar em sala de aula pois, se o fizerem, ser-lhes-á confiscado e entregue na Direção da Escola. É um desafio constante, sentindo-nos, por vezes a remar em sentido contrário à sociedade. Até porque o telemóvel pode ser um instrumento de trabalho muito útil na actividade lectiva. As escolas não estão devidamente apetrechadas com equipamentos informáticos e cobertura rede que responda às necessidades pedagógicas actuais, levando a que muitas vezes seja através do telemóvel pessoal que práticas lectivas inovadoras se desenvolvam em sala de aula.

Considero positiva a utilização controlada destes equipamentos para que não se tornem dependentes dos mesmos.

Com o aumento das necessidades de inclusão e diversidade nas escolas, de que forma o seu agrupamento está a preparar-se para acolher alunos com diferentes perfis, tanto a nível académico como social?

No nosso Agrupamento acolhemos crianças e jovens de 21 nacionalidades diferentes. Esta multiculturalidade é muito enriquecedora para todos. Sempre tivemos como princípio norteador o de nos abrirmos ao mundo, dando a conhecer outras realidades, fazendo com que a região onde nascemos e vivemos não seja limitadora de conhecimento e de abertura a novas vivências. Desde sempre participamos em Projectos Europeus Erasmus, levando os nossos alunos a diferentes países da Comunidade Europeia e recebendo escolas, no âmbito de multitemáticas enriquecedoras para todos. Agora, que acolhemos estes jovens migrantes, fazemo-lo com muita alegria pela diversidade cultural que nos trazem. Como medidas integradoras, entre outras, destacamos a actividade que designamos por “Dia da Multiculturalidade “. Neste dia, 12 de Novembro de 2024, em todos os estabelecimentos de ensino, é feita uma paragem nas aulas convencionais para que todos e cada comunidade, mostre através de ateliers diversos, as suas tradições, a sua cultura, culinária local, música, etc. do seu país. As famílias, são convidadas a virem às escolas dos seus filhos para dar a conhecer aspectos dos seus países de origem. É muito gratificante ver o orgulho e a alegria da partilha entre todos e o respeito dos alunos uns pelos outros.

Outra medida implementada desde o ano transacto, foi a criação de uma Disciplina própria designada por “Português Inclusivo”. Esta é destinada a todos os alunos oriundos do Brasil. Sentimos a necessidade da sua implementação devido à imensidão e diferença académica entre as regiões do Brasil. Alguns destes alunos precisam de um reforço de aprendizagens e, por vezes, até de iniciação numa língua estrangeira. Apesar da escola oferecer “Português Língua Não Materna”, para todos os alunos estrangeiros, os países que fazem parte dos PALOP não são abrangidos por esta oferta. Daí a importância e o esforço horário que fazemos para a oferta do “Português Inclusivo”.      

A digitalização da educação é um tema recorrente, mas há desafios evidentes, desde a falta de recursos tecnológicos até à capacitação dos docentes. Como está o seu agrupamento a enfrentar estes desafios e a preparar-se para o futuro digital na educação?

Relativamente à digitalização da educação, o agrupamento aderiu a projectos de aquisição de novos equipamentos através da Escola Digital tais como computadores para alunos e professores, assim como para a substituição de projectores de vídeo obsoletos. 

Após candidatura, vamos ser abrangidos pelo projecto LED, para instalação dum Laboratório de Educação Digital transformando uma sala de aula comum num espaço mais dinâmico, tecnológico.  

Houve um esforço para o desenvolvimento e frequência de acções de formação para colmatar dificuldades de utilização de meios tecnológicos por parte dos docentes, assim como incentivar a mudança de metodologias mais tradicionais para metodologias activas e centradas no aluno. 

No 1.º CEB, desenvolvemos aulas com coadjuvação quinzenal com professores TIC e professores titulares de turma. 

Além disso, também sentimos a necessidade de auxiliar os encarregados de educação, tendo organizado sessões de esclarecimento e acções de formação, através da criação de uma Academia Digital para Pais.

As nossas escolas não dispõem de recursos tecnológicos suficientes que permitam corresponder aos objectivos de digitalização da educação a que a tutela se propõe.

Desde o início do Projecto Escola Digital, nunca houve equipamentos que cobrissem todas as necessidades. 

As famílias tiveram acesso a computadores que, entretanto, se vêm deteriorando, para os quais a garantia de manutenção já terminou e cuja manutenção é muito dispendiosa.

Para a realização das Provas de Avaliação em formato digital, a escola teve que adquirir, através do seu curto orçamento, equipamentos que permitissem a realização das mesmas por parte de todos os alunos.

Que expectativas têm em relação ao ano lectivo 2024/2025 e quais são as prioridades da direcção do seu agrupamento para garantir uma educação de qualidade para todos os alunos?

O nosso compromisso com a educação e com esta vasta região do Concelho de Santarém que abrangemos é a de prestar um serviço educativo que garanta a todos os jovens um percurso formativo que lhes forneça um conjunto de competências que os torne aptos a investir no seu futuro e a agir de forma livre, informada e consciente, perante os desafios sociais, económicos e tecnológicos do mundo, constituindo-se como uma mais-valia para a região, sendo dignos sucessores do tecido empresarial de sucesso que temos nas dez freguesias da área do Agrupamento. Para que estas expectativas sejam concretizadas conto com as famílias, com um quadro docente estável, assistentes operacionais que asseguram a abertura e encerramento adequado aos horários laborais, com Unidades de Multideficiência e de Ensino Estruturado, com técnicos que proporcionam diferentes terapias com maior proximidade, o que é essencial nesta zona geográfica distante da cidade, com psicólogos e uma Educadora Social, com uma rede de projectos que vão do âmbito da Saúde e Desporto, Solidariedade, âmbito Europeu e Ambientais (com dois Centros de Ciência Viva) os quais  enriquecem o currículo e garantem uma escola completa. 

O nosso desafio permanente é o de garantir uma acção pedagógica, coordenada entre os processos e as dinâmicas de trabalho, procurando uma harmonização entre as estruturas e os princípios orientadores do Agrupamento, onde o todo e cada parte, entenda com clareza, cumprindo com ética e transparência as estratégias traçadas.

Só com esse compromisso se promovem melhores aprendizagens, tendo sempre presente que os alunos são sempre jovens que têm o direito a viver e a construir o seu futuro, daí o Lema do Projecto Educativo do Agrupamento de Escolas D. Afonso Henriques ser: O Futuro faz-se Hoje!

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