As eleições de 30 de janeiro tiveram tanto de surpresa como de confirmação.
Do lado da surpresa, e contra as expetativas, o Partido Socialista obteve uma maioria absoluta.
Houve ainda a surpresa desta vitória ter ocorrido em todos os círculos eleitorais de Portugal Continental, o que aconteceu pela primeira vez na nossa História, perdendo apenas para a coligação PSD/CDS-PP na Região Autónoma da Madeira e vencendo na Região Autónoma dos Açores.
Estes resultados contrastaram com o cenário de incerteza com o qual fomos convivendo no período pré-eleitoral e com os comentários que nos foram inundando os diversos painéis de comentário político.
Perante um tão propagado equilíbrio entre PS e PSD e a Esquerda e a Direita, os portugueses votaram de uma forma clara num único partido, conferindo-lhe a sua segunda maioria na história democrática. Aliás, esta é apenas a 4ª maioria absoluta na nossa história democrática.
Surpresa ainda, o facto de um partido que governa um país há 6 anos, conseguir atingir essa meta tão ambiciosa da maioria absoluta.
Com este resultado, António Costa garantiu as condições necessárias para uma grande estabilidade governativa, num período que durará mais de 4 anos e meio, atingindo o objetivo delineado em 2015 quando apresentou a Agenda para a Década.
Irá agora governar com uma Assembleia da República que não obrigará a constantes negociações, como ocorreu nestes 6 anos, e com umas condições para o crescimento que juntam as verbas do Plano de Recuperação e Resiliência, com o fim do Portugal 2020 e o lançamento do novo ciclo de programação, o Portugal 2030. Esta “trilogia” para o investimento pode muito bem constituir-se como o grande motor para o crescimento do nosso país.
As constantes hesitações de Rui Rio e do PSD, inclusive durante a campanha eleitoral sobre as soluções governativas, muito provavelmente ajudaram a este resultado.
No campo das confirmações, o Iniciativa Liberal e o Chega cresceram, conforme era expetável, e vão agora ocupar um espaço político que de certo modo foi sendo abandonado. Por culpa do PSD e do CDS-PP.
O Partido Comunista e o Bloco perderam muito do seu eleitorado.
Os dois juntos tiveram agora menos votos do que aqueles que o BE tinha atingido em 2019. Aliás, o Partido Ecologista “os Verdes” desapareceu do parlamento, ficando agora ambos os partidos reduzidos a um total de 11 Deputados e com o espetro da mudança nas suas lideranças.
O PAN, que pouco e pouco foi esquecendo o “P” de Pessoas, viu reduzida a sua representação a um único Deputado.
O Livre, que tinha elegido uma Deputada em 2019, entretanto desavinda com o Partido, conseguiu manter a sua representação ao eleger o Rui Miguel Tavares, em Lisboa.
Por fim, o CDS.
Do ponto de vista democrático, é preocupante constatar o seu desaparecimento da Assembleia da República. O CDS é um dos 4 partidos fundadores da democracia, fundamental na formação e construção deste país após abril de 74. Mas, a sua liderança, por vezes pueril, condenou-o a este desaparecimento.
Teremos agora um previsível processo de mudanças na liderança da maioria dos Partidos que atingiram resultados muito aquém dos alcançados em 2019.
E toda uma nova reconfiguração no Parlamento.
Para o futuro e talvez para ensinamento, fica o facto de os modelos utilizados pelas empresas de sondagens terem forçosamente de se modernizar, atualizar e evoluir.
Tem vindo a acentuar-se, e não apenas em Portugal, uma diferenciação de resultados entre aquilo que mede uma sondagem (uma tendência) e o ato eleitoral em si.
O resultado registado nestas eleições surpreendeu sondagens, comentadores e especialmente os “Bugalhos da vida”. Mas, traduziu-se na demonstração de uma enorme participação eleitoral, com uma redução da abstenção e a evidência da escolha inequívoca dos portugueses.
Inato ou Adquirido – Ricardo Segurado