Vou renovar a carta. Fui ao médico para me passar um atestado em como não bebo e posso conduzir. Perguntou-me se tenho problemas de visão ou audição. Eu disse-lhe que depende dos dias.
Há dias em que oiço o que não quero ouvir e há outros em que quero ouvir e não oiço nada. Quanto à vista também há dias em que vejo o que não quero ver e outros em que quero ver e não vejo.
O médico olhou para mim surpreendido com a resposta.
“Mas consegue ver a estrada?” – perguntou curioso.
Só a vejo nas rectas. Para lá das curvas já não a vejo.
Como ando na auto-estrada não há problema. É sempre em frente!
“Consegue ouvir a sirene de uma ambulância ou carro de bombeiros?” – Isso aí depende do SIRESP. Se o sistema funcionar, oiço muito bem e facilito as operações de socorro.
“Pára nas portagens?” – Só quando as vejo. Mas tento sempre não atropelar nenhuma. Acho mal que ponham aquilo mesmo no meio da estrada. É um perigo!
“Utiliza a via verde?” – Não porque eu sou do Benfica.
“Distingue facilmente as cores dos semáforos?” – Sim. Quer dizer, acho que sim. Amarelo é para plásticos, verde para garrafas, e no vermelho… no vermelho…
“O vermelho é para parar.” – É isso! É isso mesmo! Devemos parar porque é sinal que os contentores estão cheios.
“Bem. Leva aqui o seu atestado para a renovação da carta. Indico apenas algumas ligeiras condicionantes, mas sem relevância.”
Não faz mal senhor doutor. Hoje já quase ninguém usa carta. É mais o email. Olhe, os CTT estão à rasca por causa disso!
“Pronto. Aqui tem o seu atestado.”
Obrigado. Atestado dá para andar mais quilómetros.
“E se conduzir, não beba!”
Ah pois! A conduzir não consigo. Tenho mesmo que parar!
In: ‘Correio do Ribatejo’ de 9 de Agosto de 2019