Natural do Entroncamento, Fábio Leitão tem vindo a afirmar-se como fotógrafo autodidacta, com um percurso crescente pautado pela paixão pelos detalhes e pela vontade de contar histórias através da imagem. Após ter visto uma fotografia sua publicada na revista National Geographic e de ter vencido vários concursos nacionais, o autor apresentou recentemente a exposição “Cidade com Alma de Ferro”, na Galeria Municipal do Entroncamento. Em entrevista ao Correio do Ribatejo, partilha a forma como a fotografia se tornou parte da sua identidade, o fascínio pela ferrovia, os projectos em curso e o desafio de transformar o quotidiano em poesia visual.

 

Como começou o seu percurso na fotografia e o que o levou a transformar esse gosto numa prática regular?

Desde muito novo desenvolvi um gosto pela fotografia e sempre tive um fascínio especial ao ver os fotojornalistas com a câmara na mão a registar o “momento”. Há muitos anos que fotografo, inicialmente com uma máquina DSLR, que ainda hoje guardo e mais tarde com o telemóvel. No entanto, nunca ficava totalmente satisfeito com os resultados, o que levava a que não fotografasse com muita regularidade.

Ao ver as obras de outros fotógrafos, que ainda hoje admiro e que são uma grande inspiração para mim, sentia que era algo daquele género que queria conseguir produzir com as minhas fotografias. Foi então que, em 2021, surgiu a oportunidade de frequentar um curso pós-laboral com mais de 150 horas, realizado no Entroncamento, que me permitiu aprofundar conhecimentos técnicos e evoluir significativamente a nível fotográfico. Esse percurso contribuiu para que começasse a praticar mais e a sentir que estava efectivamente a evoluir na forma de fotografar. Mais recentemente, em 2024, ingressei num atelier de fotografia em Vila Nova da Barquinha, o que tem sido uma experiência muito enriquecedora e inspiradora.

Outro dos factores que mais contribuiu para transformar este gosto numa prática regular foi, em 2022, ter a honra de ver uma das minhas fotografias publicadas na revista National Geographic. Esse reconhecimento deu-me uma enorme confiança e motivação para continuar a explorar esta arte. Posteriormente, em 2024, fui vencedor do concurso nacional de fotografia do Corpo Nacional de Escutas, conquistei o 1.º lugar no concurso promovido pelo Município do Entroncamento e, em 2025, alcancei o 2.º lugar na mesma iniciativa. Ainda em 2024, por ocasião das comemorações do 25 de Abril, tive a oportunidade de expor algumas das minhas fotografias no Salão Nobre da Junta de Freguesia de Alpalhão, no concelho de Nisa.

Além disso, o facto de ver as minhas fotografias partilhadas nas redes sociais por artistas e bandas que fotografei, bem como por entidades como o Exército Português, tem sido um incentivo constante. A juntar a isso, todo o apoio e o feedback recebido por amigos e, sobretudo, pela família, contribuíram de forma essencial para manter viva esta paixão.

Todos estes marcos foram fundamentais para não desistir. Quando comecei, tudo isto parecia muito distante e nem nos meus melhores sonhos imaginaria que algum dia os iria alcançar.

Actualmente, a fotografia é um hobby que pratico regularmente. Gosto de fotografar um pouco de tudo, desde cultura, património, quotidiano e desporto, mas especialmente no último ano tenho estado mais focado na fotografia de espectáculo (concertos), recriações históricas e fotografia militar. Ao fotografar, sinto uma espécie de calma e uma enorme realização pessoal. Cada imagem, para mim, é uma forma de congelar aquele momento e, como dizia Henri Cartier-Bresson: “Fotografar é colocar na mesma linha de mira a cabeça, o olho e o coração.”

 

A cidade do Entroncamento tem estado muito presente no seu trabalho. O que o fascina no quotidiano e no ambiente urbano da cidade onde cresceu?

A cidade do Entroncamento ganhou uma presença e um significado muito especial nesta exposição, não só por ser o lugar onde cresci, mas também pela sua identidade muito própria, marcada pela ferrovia. A ligação familiar que tenho com o meio ferroviário e o meu fascínio pelo comboio e pelo caminho de ferro tornam esta cidade ainda mais especial para mim.

Há algo de único em fotografar o lugar onde crescemos. É como se cada fotografia tivesse um significado extra, uma camada emocional que vai além da imagem. Ao fotografar o Entroncamento, sinto uma ligação profunda e, sempre que capto algo nesta cidade, procuro mostrar um olhar que leve as pessoas a senti-la como eu a sinto: única, diferente de qualquer outra, uma cidade que cresceu com o comboio e em torno da ferrovia, e que continua a ser um ponto de ligação ao país.

 

A exposição “Cidade com Alma de Ferro” mostrou um olhar muito pessoal sobre o Entroncamento. Como é que o público reagiu à forma como retratou a cidade?

A exposição contou com mais de 140 visitantes, o que me deixou bastante satisfeito, especialmente por ser um número acima do habitual nas exposições realizadas na galeria do Entroncamento. Foi muito gratificante ver tantas pessoas interessadas em conhecer o meu trabalho e a forma como retrato a cidade.

A reacção do público foi extremamente positiva. Para além das mensagens de parabéns e de muitos dizerem que acreditam que será a primeira de muitas exposições, houve quem partilhasse que viu o Entroncamento de uma forma como nunca tinha visto antes. Seja pela forma como consegui capturar a essência da cidade, pela sensibilidade das imagens ou pelas histórias que algumas fotografias contavam, ouvir que consegui mostrar o Entroncamento com um olhar diferente foi, sem dúvida, um dos maiores reconhecimentos que poderia receber.

 

Fotografar é também contar histórias. Que temas ou detalhes mais gosta de explorar nas suas imagens?

Actualmente, o que me dá mais prazer é a fotografia de concertos. Gosto de tentar captar a emoção que os artistas transmitem em palco e também aquilo que o público sente, os olhares, os gestos, os momentos de entrega. Há uma energia muito própria nestes ambientes que me desafia a congelar instantes que, por si só, contam histórias.

No entanto, ao realizar o projecto “Entroncamento – Cidade com Alma de Ferro”, surgiu em mim uma vontade crescente de explorar o quotidiano urbano. Tentar mostrar algo que todos vemos todos os dias, mas que muitas vezes passa despercebido. A ideia de transformar o comum em algo belo, de revelar a poesia escondida nos detalhes do dia a dia, tornou-se um novo desafio que quero continuar a explorar. Fotografar é também isso: olhar com atenção e sensibilidade para o que nos rodeia e dar-lhe uma nova vida através da imagem.

 

Quais são os seus próximos desafios enquanto fotógrafo? Tem projectos em desenvolvimento ou ambições futuras que queira partilhar?

O maior desafio que sinto enquanto fotógrafo é continuar a evoluir e a fotografar melhor de dia para dia. A fotografia é uma aprendizagem constante, e essa vontade de crescer tecnicamente e artisticamente está sempre presente. Um dos passos que gostaria de dar em breve é começar a explorar a fotografia de retrato. É uma área que me atrai bastante, mas representa também um desafio, por me obrigar a sair da minha zona de conforto e a trabalhar de forma mais próxima com as pessoas.

Em termos de projectos, quero dar continuidade ao “Entroncamento – Cidade com Alma de Ferro”, aprofundando o lado humano da cidade. A ideia é fotografar pessoas que, ao longo da sua vida, contribuíram para o desenvolvimento do Entroncamento, e fazer a ligação entre essas pessoas e os locais que marcaram o seu percurso. Por exemplo, um trabalhador das oficinas da CP em plena actividade, ou um bombeiro no quartel. Pretendo unir o lado humano, que dá alma à cidade, com os espaços que simbolizam o ferro, elemento que fez crescer o Entroncamento.

Paralelamente, estou a desenvolver um outro projecto no atelier da Barquinha, que culminará num foto-livro relacionado com o contentor marítimo. É um tema diferente, mas que me tem permitido explorar novas abordagens visuais e narrativas, e que representa mais uma etapa importante no meu percurso fotográfico.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Leia também...

“Os alunos precisam de sítios acessíveis para viverem”

Mariana Marques, de 22 anos, frequenta o mestrado em Contabilidade e Finanças na Escola Superior de Gestão e Tecnologia de Santarém, onde também é…

“Estamos todos a fazer protecção civil e a ser agentes activos”

Mário Silvestre, Comandante Operacional Distrital, garante que toda a estrutura de Protecção Civil está a trabalhar em conjunto para responder e “antecipar ao máximo”…

“Este evento é uma mostra gastronómica dos produtos das nossas terras”

Desta sexta-feira a domingo, dia 29 de Junho, realiza-se em S. Vicente do Paúl, no Jardim de S. Vicente, a 16.ª edição das Tasquinhas…

“Um livro que é uma homenagem a um homem muito importante para a nossa comunidade”

“O menino que tinha o coração de sol” é um livro infantil que conta a história de Joaquim José Louro Pereira, uma figura de…