Fábio Antunes, 29 anos de idade, criou o ‘Movimento Luto Pelo Rio Nabão’, no passado dia 1 de Março, para alertar para um problema que subsiste em Tomar há dezenas de anos. O jovem editor de vídeo, apesar de não residir actualmente na cidade, não quis baixar os braços e lançou uma campanha para mostrar a indignação da população à tutela do Ambiente, bem como às demais entidades competentes. A iniciativa teve impacto na população tomarense e o jovem já tem mais acções planeadas para o futuro.

Como é que nasceu o ‘Movimento Luto Pelo Rio Nabão’? A escolha para lançar a iniciativa no dia da Cidade de Tomar foi propositada?
O ‘Movimento Luto Pelo Rio Nabão’ surgiu devido a uma ironia que criei no dia da Cidade de Tomar (1 de Março), para alertar e despertar os cidadãos para um dos maiores problemas que ocorrem na cidade há mais de 50 anos. Alertando que todas as cidades tem problemas por resolver mas que o grande problema de Tomar, é a consequente e frequente poluição no Rio Nabão. Fiz uma publicação nos diferentes grupos de Tomar em tom de ironia. Criou algum zumbido entre a população e não apenas dos residentes actuais de Tomar (mais de 400 partilhas no total em diferentes publicações). A minha amiga Natércia Rodrigues-Lopes, 28 anos, investigadora e cientista, que reside em Barcelona actualmente, mas natural de Tomar, entrou em contacto comigo após visualizar a minha publicação e abraçou este projecto. E concedeu a ideia para criar uma campanha de iniciativa para todos entrarem em contacto com o Ministério do Ambiente e Transição Energética, através do email do governo à referida entidade, explicitando a sua indignação. Ou seja, juntos, seremos mais fortes. E assim começou a primeira iniciativa do ‘Movimento Pelo Rio Nabão’.

Apesar de não residir actualmente em Tomar, porque é que os problemas de poluição no rio Nabão o preocupam?
Não me preocupam apenas os problemas do Rio Nabão, mas sim da poluição realizada por todo o mundo. Mas temos que “pensar globalmente e actuar localmente”, (“Think globally, act locally”). E acho estranho tantos anos e gerações que passaram por este problema e nada seja feito. Ainda mais estranho é a comunicação social local não apoiar este tipo de iniciativas. Desde novos somos ensinados nas escolas que temos que proteger e dignificar a Natureza. Mas como tudo, na teoria é muito bonito, mas na prática nada é realizado ao longo deste País, pois, não é apenas o Rio Nabão que tem este tipo de problemas.

Para si, quem tem responsabilidade neste caso? O que pode ser feito para ultrapassar os problemas de poluição do rio?
Na minha opinião a maior responsabilidade destes casos é de todos nós, não somos todos totalmente activos a resolver e a “protestar” sobre estes problemas. E temos que exercer pressão às entidades competentes se queremos estas situações resolvidas, como explicita nos termos do artigo 5º da lei 19/2014, de 14 de Abril, que a todos os cidadãos atribui o direito ao ambiente e à sua defesa, ‘bem como o poder de exigir de entidades públicas e privadas cumprimento dos deveres e das obrigações, em matéria ambiental, a que se encontram vinculadas nos termos da lei e do direito’.

Considera que as medidas tomadas pelas autoridades têm sido suficientes?
Não! As descargas no Nabão são frequentes e não existem respostas para as mesmas, ficam em segredo nas respectivas entidades. Foram remetidos dezenas e dezenas de email’s ao Ministério do Ambiente e Transição Energética, e ninguém recebeu uma única resposta.

É importante alertar as gerações mais novas para este tipo de problemas?
Claro que sim, não podemos estar a observar a nossa “casa a arder” e ficar de braços cruzados. Desde 1974 (pelo menos) que este problema é recorrente. E na escola tem que ser ensinado e reforçado as consequências dos problemas ambientais. Vivemos actualmente numa sociedade evoluída, numa era em que a informação é de fácil acesso, desde a palma da nossa mão (Smartphone).

Acha que os jovens têm preocupação ambiental ou é só uma moda?
Na minha opinião, em Portugal os jovens têm preocupação ambiental mas são pouco activos nesta matéria. Não pode ser uma moda, tem que ser um modo de vida. A Suécia consegue reciclar 99 por cento do lixo que produz. Mas este problema para ser resolvido, tem primeiro que partir da consciência política, desde o Governo às entidades locais.

Que futuro quer para o Rio Nabão e para os cursos de água em geral?
Há muito trabalho por fazer em Portugal no que toca à gestão da água. O facto de não termos ainda conseguido eliminar descargas poluentes nos nossos rios – não só no Rio Nabão mas também no Lis e no Alviela, por exemplo – é prova disso. Mas o problema é ainda maior. Consideremos, por exemplo, a rede de esgotos no concelho de Tomar, que ainda mal chega às portas da cidade. A menos de cinco quilómetros da cidade já não há rede de esgotos e as pessoas têm de se servir de fossas sépticas, algumas estanques e outras nem por isso. Na prática, isto significa que temos um vastíssimo problema de poluição de águas subterrâneas. Aliás, não temos sequer noção da gravidade do problema, porque as águas subterrâneas não estão devidamente identificadas, nem monitorizadas. Não sabemos sequer ainda que água temos disponível, com que qualidade e com que intensidade ela é explorada. Estamos a avançar para um futuro de escassez de água completamente às cegas, sem preparação, adormecidos na ilusão de que ela nunca nos irá faltar (ou de que basta aumentar-lhe o preço para se resolver o problema, o que é falso). Mais cedo ou mais tarde, as consequências disso vão cair-nos aos pés. Não podemos esperar que a situação se torne um problema de saúde pública para agir. O futuro que eu quero para a água em Portugal, é um futuro em que tomamos decisões informadas sobre a sua gestão. Mas é preciso primeiro vontade política para tomar atenção a estes problemas, é preciso querer saber. E é preciso coragem para tomar as decisões que é preciso tomar, e para investir o que é preciso investir. A nossa sobrevivência depende disso, porque sem água não há vida.

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