O Grupo Académico de Danças Ribatejanas, de Santarém, está em digressão por terras gaulesas a representar o folclore ribatejano, participando no importante Festival RITE’23, que se realiza este ano pela 31.ª edição.
Este conceituado grupo de folclore regressou a um Festival oito anos depois da sua primeira presença e a forma como tem sido acolhido nas pequenas cidades onde se tem apresentado tem sido cativante, pois muitos dos espectadores ainda têm memoria da anterior presença, fazendo questão de o referir nos contactos com os jovens componentes do Grupo.
Nesta digressão – que teve os seus momentos mais altos nas duas galas internacionais em que participaram os grupos de Peru, Croácia, Portugal, Uganda, Indonésia, Cuba e França – o Grupo Académico integrou quatro pares do Grupo Infantil de Dança Regional, os quais têm merecido rasgados elogios do público, tão sensível à presença de crianças neste tipo de espectáculos em que está subjacente a defesa das tradições de cada país ou região ali representada.
Os Grupos escalabitanos regressarão a Santarém no próximo sábado, certamente com a consciência tranquila de uma vez mais haverem dignificado o folclore português no estrangeiro e de elevarem bem alto os nomes de Santarém e do Ribatejo.
Na próxima edição do “Correio” faremos mais desenvolvida notícia sobre esta tão bem-sucedida digressão do folclore português em França.
Tempo de Festivais de Folclore
Os meses de Junho a Setembro são, por excelência, aqueles em que têm lugar um maior número de festivais de folclore um pouco por todo o país.
Esta forte concentração de eventos folclóricos nesta época do ano decorre tão somente da circunstância de muitos destes festivais se integrarem em festas populares, feiras e romarias das respectivas regiões, as quais se celebravam em homenagem e por devoção ao santo padroeiro ou pelo facto de coincidir com um período de menor azáfama de trabalho nos campos agrícolas. Depois das ceifas e antes das vindimas…
A juntar ainda a estas relevantes circunstâncias temos de levar em consideração o facto de a maioria destes festejos ocorrerem em espaços ao ar livre, improvisados para o efeito, dada a inexistência de estruturas socio-culturais que os pudessem acolher em tempos de antigamente.
Enfim, por diversas e ponderosas razões entendia-se, perfeitamente, a opção por esta época, o que, convenhamos, actualmente, já não se justifica tanto, uma vez que não há aldeia ou vila do nosso país que não disponha de um pavilhão ou de uma sala de espectáculos onde se possa levar a efeito em qualquer época do ano uma iniciativa desta grandeza, com mais qualidade técnica para os grupos participantes e maior conforto para os espectadores.
Todavia, ainda há muito boa gente que alega que os espectáculos de folclore devem decorrer em recintos abertos, ao ar livre. Como antigamente…
Esta atitude lembra-me o que se dizia a propósito da realização de toiradas no Ribatejo, as quais, segundo a opinião dos mais antigos, querem é sol e moscas. Assim, nem mais! Alguns, há em fase de evolução de pensamento, consentem que se possa, ao menos, prescindir das moscas, mas agora o Sol, isso é que não. No entanto, os bilhetes mais procurados são, exactamente, os da sombra. Porque será?
Bem, os tempos evoluem, as realidades mudam, e, assim, nada nos deve impedir de inovar também alguns comportamentos em relação a aspectos assentes na tradicionalidade. Porque, não há como esconder, a tradição também evolui, porque se assim não fosse, ainda viveríamos como o homem das cavernas. Em todos os aspectos da vida se constata um ritmo de evolução, mais acelerado ou mais conservador, conforme as circunstâncias que determinam a própria mudança, porém, quase sem nos darmos conta, registam-se significativas mudanças nos nossos hábitos e nas nossas atitudes. Basta olharmos para a realidade da nossa vivencia de meninos há meio século atrás e os dias de hoje… quantas diferenças encontramos!
Ora o inconveniente da maior concentração dos festivais de folclore numa curta época do ano, é que, estando a maioria dos grupos envolvidos nas suas actividades não podem assistir aos festivais organizados por grupos e ranchos de folclore da vizinhança que tenham lugar nas proximidades da sua residência.
Infelizmente, chega a acontecer que na mesma tarde ou na mesma noite têm lugar dois ou três festivais de folclore a pequeníssimas distâncias entre si, exigindo que as próprias entidades oficiais e de representação tenham de saltitar de festival em festival para marcarem presença, ou as vezes a não irem a nenhum, alegando compromissos de agenda já assumidos com outro grupo.
Actualmente, e com inteira justiça, a maioria dos componentes dos grupos não prescindem de algum tempo de férias balneares nos empregos por turnos é cada vez mais difícil fazerem-se trocas, posto que no período estival os quadros de pessoal estão, compreensivelmente, mais reduzidos, e, por outro lado, também nos apercebemos de que os grupos de folclore nesta época têm de recorrer a antigos componentes, alguns já com a barriguinha mais proeminente, ou a jovens bailadores, que ainda não estão suficientemente preparados para este desempenho, o que muito penaliza a sua representação, numa perspectiva técnica e artística. Perguntamos, isto é bom para alguém?
Claro que não! Então, sendo possível, o que desejamos é que os grupos se entendam, nem que seja com a coordenação das respectivas autarquias, no sentido de se evitarem estas situações. A bem do Folclore e dos próprios agrupamentos!
Assim, aqui fica a nossa sugestão para que não deixe de assistir aos espectáculos de folclore realizados próximo da sua área de residência e apõe os grupos que os organizam, pois, em regra, debatem-se sempre com imensas dificuldades financeiras e logísticas para levar por diante tão interessantes projectos, em favor da afirmação e defesa da nossa matriz identitária.