Moita do Ribatejo – Praça de Toiros “Daniel do Nascimento”, 14 de Setembro’ 2023 –22 horas. Corrida à Portuguesa. Cavaleiro – João Ribeiro Teles; Grupo de Forcados Amadores do Aposento da Moita, capitaneado por Leonardo Mathias; Ganadarias (Por ordem de Lide): Dr. António Silva, David Ribeiro Telles, Prudêncio, Fernandes de Castro, Veiga Teixeira e Passanha; Director de Corrida: Tiago Tavares; Veterinário: Dr. Jorge Moreira da Silva; Tempo: Ameno; Entrada de Público: 2/3 da Lotação.
O cavaleiro tauromáquico João Ribeiro Telles está numa fase da sua carreira que não tem nada a provar a ninguém, tanta é a sua classe artística e tão elevada a sua competência técnica. Os anos que leva de toureio, entre os quais os quinze de alternativa, permitem consagrá-lo como uma figura estelar entre os melhores toureiros da sua geração, e do mesmo modo entre os que ao longo dos tempos têm valorizado e engrandecido esta expressão tauromáquica tão portuguesa.
João Ribeiro Telles terá sentido que este era o tempo da sua consagração. A apoteose das suas faculdades técnicas e artísticas e a confiança nas suas montadas poderão ter ditado a ocasião. Foi a vontade de assumir mais um desafio de gigante, sem receio de arriscar ou de defraudar os aficionados que tanto o admiram e respeitam.
E se é verdade que o triunfo não foi tão retumbante quanto todos o desejávamos, não é menos certo que em todas as lides o marialva da Torrinha esteve por cima dos seus oponentes. A todos entendeu e a todos lidou como deveria fazer, pois cada toiro tem a sua lide, e João Telles andou sempre em plano senhoril, atento a todos os detalhes e ajustando o seu toureio às condições dos hastados que enfrentou.
Os toiros que João Telles elegeu para este desafio serviram, embora nem todos tivessem tido a mesma qualidade em termos de condições de lide, saindo mais suaves e sonsos os dois primeiros, que não exigiram grandes recursos ao marialva, porém também não lhe permitiram desenhar as lides que sonhara. Louve-se a sua preocupação em cumprir os cânones do toureio marialva, dando as vantagens aos seus oponentes e cravando a ferragem em sortes vistosas e perfeitas, privilegiando sempre que possível as distâncias de poder a poder.
O toiro de Prudêncio, terceiro da ordem, foi recebido magistralmente numa sorte de gaiola, investindo o cornúpeto com ímpeto e brusquidão, cobrando ao ginete da Torrinha o repouso das lides anteriores. Foi, indubitavelmente, este toiro que despertou os aficionados, que vibraram pelo andamento do toiro e pelo quanto apertava em cada sorte. Todavia, foi também este o momento em que João Telles mais terá sentido a dimensão do seu desafio.
Esteve brilhante na lide de um bom toiro e, como corolário desta boa lide, surgiu o tempo de apoteose com um vistoso “violino”, seguido de um palmito, ambos muito aplaudidos. Mas a série de três curtos, em sortes carregadas ao piton contrário, foi sublime.
No quarto toiro João Telles convidou os cavaleiros que estavam de “sobressalientes” – Manuel Telles Bastos, António Telles (Filho) e Tristão Guedes Queiroz – para a colocação dos ferros curtos, o que foi agradável no contexto em que tal aconteceu, embora em termos de toureio pouco acrescentasse ao que havíamos apreciado antes.
O quinto toiro era pouco sabedor do rifonário taurino e por isso não saiu nada fácil – essa coisa de “no hay quinto malo”… – porém, permitiu a João Telles evidenciar os seus bastos recursos de lidador, posto que houve que lidar com muita competência, encontrar os melhores terrenos para a consumação das sortes e aguentar com muito poder e valor para cravar a ferragem comprida e curta. Estas raramente são as lides desejadas por qualquer toureiro, para mais em ocasião tão especial, mas permitem aferir a sua justa dimensão.
O último toiro da corrida serviu perfeitamente para culminar um espectáculo tão interessante. Toiro sério, a pedir contas, superiormente lidado, permitiu a João Telles fechar esta sua encerrona com uma autêntica chave de ouro, ficando-nos na retina aqueles ferros curtos em que o cavaleiro avançou para a cara do toiro e num último instante quarteou-se e colocou a ferragem em reuniões do máximo compromisso. Olé!
As pegas estiveram cometidas ao Grupo de Forcados do Aposento da Moita que cumpriu com brilhantismo este desafio, que não teve facilidades. Foram solistas nesta memorável noite João Freitas, à segunda tentativa, o Cabo Leonardo Mathias, à primeira tentativa consumada com perfeição, António Lopes Cardoso, igualmente à primeira, André Silva, à segunda com valor, Martim Cosme Lopes, também numa primeira tentativa numa sorte soberba, e Tiago Nóbrega, que consumou rija pega à segunda tentativa, a dobrar o forcado José Maria Duque, desfeiteado violentamente na sua única tentativa. Manda a justiça que se diga que o Grupo esteve coeso e eficaz na maioria das ajudas.
Bom desempenho dos bandarilheiros que intervieram nas sucessivas lides, coadjuvando com competência e eficácia o labor do conceituado marialva que uma vez mais superou com distinção os seus desígnios. Direcção atenta e competente do Delegado Técnico da IGAC Tiago Tavares, numa corrida que teve ainda a colaboração do prestigiado cantor Luís Trigacheiro, que actuou em diversos momentos da corrida.