Os tipógrafos iniciaram uma greve, a 27 de Março de 1919, pois pretendiam melhores condições de trabalho e um horário mais flexível. Esta luta laboral centrava-se em Lisboa, onde existia o maior número de tipografias, sindicatos e funcionava a Federação do Livro e do Jornal.

No primeiro de Maio desse ano, os tipógrafos comemoraram o Dia do Trabalhador participando no comício convocado pela União dos Sindicatos Operários de Lisboa que juntou cerca de 30 mil pessoas. Em Santarém, o operariado uniu-se em redor do mítico padre Francisco Nunes da Silva (1790-1869) vulgo Chiquito. O busto do padre benemérito, construído a expensas dos fundos obtidos pela Associação Fraternidade Operária de Instrução e Recreio, foi inaugurado nesse dia, na presença do ministro do Trabalho, Augusto Dias da Silva (1887-1928), a partir de uma ideia do correeiro José Eduardo Arruda (1870-1940), irmão do tipógrafo e jornalista João Arruda, e de Antonino Pires da Silva (1892-1973), tipógrafo no “Correio da Extremadura”.

As greves nacionais recomeçaram a 2 de Maio, afectando os sectores das Águas, da Carris, os cesteiros e os alfaiates. O Conselho de Ministros lançou um apelo aos sindicatos para cancelarem as greves. No dia seguinte, o ministro da Guerra, António Maria Baptista (1866-1920) mandou prender os grevistas da Companhia das Águas.

Num período de grande instabilidade social e política, o partido Democrático venceu as eleições com apenas 7% dos eleitores a exercerem o direito de voto. As greves atingiram, novamente, várias categorias profissionais, entre as quais os tipógrafos e os gráficos.

O conflito laboral alastrou-se a Santarém, levando a que a edição de 17 de Maio do “Correio da Extremadura” não tivesse saído do prelo devido à greve dos tipógrafos. Na primeira página da edição de 24 de Maio era publicado um aviso aos assinantes do Jornal, onde se podia ler que “por motivo da greve tipográfica em Santarém não pode sair no dia 17 o “Correio da Extremadura”, o que pela primeira vez sucede no decurso de 29 anos, que tantos compreende a publicação ininterrupta deste Jornal. Pelo mesmo imperioso motivo sai um pouco retardado e apenas com duas páginas o presente número. Desta falta, a que fomos inteiramente estranhos, nos desculparão os nossos dedicados e obsequiosos assinantes aos quais muito devemos em atenções por uma constante e valiosa colaboração que nos desvanece, obrigando-nos a patentear-lhes aqui, mais uma vez, o preito da nossa maior gratidão” (CE, 24/5/1919, p. 1). O Jornal garantia que “para o próximo número reservamos várias notícias que não podem sair hoje” (Idem, p. 2).

Em sequência da greve, os operários conseguiram obter salários mínimos para todas as tipografias de jornais diários em Lisboa; redução de horário de trabalho; tarifas salariais para compositores manuais e mecânicos por milheiro de letras ou matrizes, respectivamente; preparação das caixas de tipo pelos compositores manuais; alteração de salários para chefes, paginadores e jornaleiros e regulamentação do número e promoção dos aprendizes. Os grevistas também conseguiram cláusulas de não derrogação das condições de trabalho mais favoráveis e a proibição de despedimento a pretexto das novas condições estabelecidas. O acordo foi assinado pelos representantes da Federação do Livro e do Jornal, Neves Dias, Fonseca Pereira e Raul de Macedo e pelos representantes das empresas jornalísticas do “Diário de Notícias”, de “O Século” e de “A Manhã, Augusto de Castro (1883-1971), Manuel Guimarães e Luís Derouet (1880-1927), respectivamente.

A instabilidade política e social manteve-se em Junho de 1919. A 3 de Junho, os ferroviários iniciaram uma greve que durou dois meses e envolveu ataques à bomba. Apesar do governo presidido por Domingos Pereira (1882-1956) ter pedido a demissão a 6 de Junho, foi convocada uma greve geral para os dias 17 e 18 desse mês. Esta greve obteve um sucesso parcial, num período em que a sede da União Operária Nacional foi encerrada.

Teresa Lopes Moreira

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