Alfredo Martins de Perofilho integraram a quadrilha do marginal Farnel que morreu na cadeia de Santarém. Em 1898, estes foram presos e condenados na sequência de diversos assaltos que praticaram em Santarém. Os dois assaltantes, de 18 e 14 anos respectivamente, organizaram-se para praticarem mais roubos.

Na noite de 11 de Janeiro de 1900, os Martins escalaram “o muro em construção junto ao Seminário, do lado do Passeio da Rainha e arrombando o taipal que veda a porta em comunicação com o terraço, penetraram no celeiro e aí arrombaram uma secretária, subtraindo uma carteira que apenas continha alguns documentos de pequena importância, mas onde os gatunos supuseram haver “grosso” dinheiro. Se a visita fosse feita na noite de 10, a colheita seria abundante porque o mordomo do Seminário tinha deixado nessa noite 500$000 réis numa das gavetas da secretária arrombada. Na quarta-feira passada deu-se também por falta de um saco de trigo e foi então que o secretário do Seminário, o reverendo José Augusto dos Santos, comunicou o facto à polícia, que tratou de providenciar para que os ratoneiros caíssem sob a sua alçada” (CE, 20/1/1900, p. 1).

A 17 de Janeiro, os Martins foram detidos pelo guarda n.º 56, próximo do Passeio da Rainha, quando estavam a roubar dois sacos com trigo, aproveitando-se do andaime junto ao referido muro em construção. António Júlio Martins tinha vendido nesse dia ao comerciante Francisco Joaquim dos Anjos, 78 litros de trigo, ao preço de 50 réis por litro. Os Martins roubavam azeitona para vender nos lagares, galinhas e tangerinas no quintal do juiz de direito e planeavam um assalto à agência do Banco de Portugal em Santarém.

O julgamento decorreu a 21 de Maio de 1900, sendo ambos condenados a 30 meses de prisão correcional, 9 meses de multa a 100 réis diários, custos e selos dos autos. O oficial de diligências Barradas conduzia os réus desde o tribunal no Canto da Cruz até à cadeia, quando junto ao Terreirinho das Flores, se evadiu Alfredo Martins pela calçada de Alfange. Barradas encontrou-o escondido numa horta pertencente a Silvéria da Cunha e Matta, após denúncia dos jornaleiros que aí trabalhavam. Para o voltar a prender contou com o auxílio do guarda n.º 25 que casualmente subia a calçada de Alfange. Entretanto, o António Júlio Martins “que ficara no Terreirinho das Flores quando o oficial de diligências perseguiu o seu irmão e camarada, foi depois encontrado a conversar, muito placidamente, com a mãe, em plena avenida das Portas do Sol! Como homem de “consciência” não deu às de “Vila Diogo”, apesar de ter tempo para ir… ao Infinito” (CE, 26/5/1900, p. 3).

CE, 26/5/1900, p. 3

No final de Maio, João Marques e José Marques Ferreira, reclusos da cadeia civil de Santarém, preparavam a sua fuga. O primeiro era natural de Viseu e tinha sido novamente preso por roubar duas chouriças enquanto o segundo, nascido em Pedrogão, tinha furtado um cavalo.

O recluso Félix Grego denunciou ao carcereiro Augusto Francisco das Neves o plano de fuga dos Marques. Estes tinham feito um rombo na parede exterior da sala voltada para o vale do Ressaio. Quer Félix Grego quer o seu colega de cela, Joaquim Lourenço da Silva, temiam represálias por parte dos Marques se soubessem que os tinham denunciado. O carcereiro e um guarda encontraram o referido rombo circular de amplas dimensões tapado por uma das camas. À noite, os Marques com a ajuda “de uma escápula que tem talvez mais de 20 cm de comprimento – e que, pregada na parede, servia para suster a cama ao alto – iam desconjuntando as pedras e cavando na parede; a terra extraída era escondida numa caixa que serve de apoio às camas, do lado dos pés. Ao concluir a operação, os presos colocavam as pedras de maior volume à boca da furna, formando assim uma parede perfeitamente lisa a que só faltava o reboco, e encostavam a cama para disfarce” (Idem).

No interrogatório conduzido pelo juiz da paz de Marvila, Luís Filipe Baptista, os Marques confessaram a autoria do rombo na parede, mas afirmaram que Félix Grego também anuíra ao projecto de fuga.
Por ordem da Câmara Municipal, a parede da cadeia civil foi reparada. Félix Grego e Joaquim Lourenço da Silva foram transferidos para outra “prisão pelo receio de que pagassem com a vida as iras dos “mineiros” denunciados” (Idem).

Memórias da Cidade – Teresa Lopes Moreira

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