Reza a história escalabitana que em 1969 existiu um grande projeto Desportivo para a cidade, sob a égide do Governo Civil e da Câmara Municipal de Santarém, que visava a construção das infraestruturas desportivas que faziam falta à cidade há muitas décadas – pasme-se – projeto esse que consistia num grande Complexo Desportivo a construir na zona do Choupal e “Horta do Taré”, a confinar com a estrada nacional, no qual se incluía um estádio municipal, vários campos de treino, piscinas de competição, ginásio-sede, pistas de atletismo e polidesportivos diversos.
E se as obras tivessem mesmo avançado? Onde andava eu na primeira metade da década de 70 do século passado?
Para além dos jogos de bola e outras atividades de rua atrás das garagens, no Choupal e na “Horta do Taré”, recordo-me especialmente de corrermos “em competição” à volta do Presídio Militar, pelo passeio, percorrendo as três ruas que o contornam: a Rua Marechal Carmona – mais tarde Av. 25 de abril – a Rua Capitão Romeu Neves e a Avenida António Maria Baptista, perfazendo a volta completa ao Presídio, numa distância de cerca de 800 metros.
Alguns vizinhos assistiam da janela ou da varanda, transformando aquelas corridas em autênticos eventos desportivos informais.
Ora aquela nossa aparente vocação para o atletismo, espontaneamente patenteada desde muito tenra idade, e não para a prática do futebol – onde militávamos nos escalões jovens, com ou sem talento – teria decerto tido outro desenvolvimento, caso dispuséssemos de condições efetivas de treino e acompanhamento técnico em instalações adequadas na nossa cidade.
Imaginemo-nos à época com orientação, planos de treinos, monitorização, oportunidades competitivas, objetivos e, sobretudo, uma pista de atletismo condigna para a prática do conjunto de modalidades desportivas mais antigo que se conhece do mundo civilizacional – o Atletismo.
Por limitações inatas, talvez nunca tivéssemos passado de corredores razoáveis ou de segunda linha, à luz dos critérios e patamares da chamada “alta competição.”
Todavia, sem igualdade de oportunidades no campo dos requisitos essenciais para a prática desta ou daquela modalidade, acabaremos por nunca poder ter a certeza se, por exemplo, ao invés dum frustradíssimo defesa central da Associação Académica de Santarém das camadas jovens – que nem um pontapé de baliza conseguia executar em condições – não poderia eu ter batido o record nacional dos 400 metros barreiras, quiçá a minha disciplina de eleição.
Creio que a minha genética a tanto não poderia almejar, mas em bom rigor nunca saberemos: por falta de barreiras, de pista de atletismo e de conveniências políticas ao longo de meio século.
Inato ou Adquirido – Pedro Carvalho