Os lares da Santa Casa da Misericórdia de Constância receberam, nos dias 17, 20 e 22 de Janeiro, oficinas de promoção do convívio intergeracional, numa organização do município de Constância, através do Museu dos Rios e das Artes Marítimas.

Num ambiente de partilha e afectuosidade, os utentes dos lares da Santa Casa da Misericórdia de Constância foram convidados a dar testemunhos orais das suas histórias de vida, das suas vivências e das suas memórias.
Dinamizadas por Anabela Cardoso, técnica superior no Município de Constância e responsável pelo Museu dos Rios e das Artes Marítimas, estas oficinas, denominadas “Estórias & Memórias”, decorreram no Lar de São João, em Constância (dia 17) e no Lar de Santa Margarida, na Aldeia de Santa Margarida (dias 20 e 22).

Um trabalho que faz com regularidade, “para que este património imaterial não se perca” e que se reveste, também, de um “cariz social”, uma vez que, nesta partilha, está subjacente a “promoção da intergeracionalidade e o envelhecimento activo e positivo, elevando a auto-estima e o bem-estar dos idosos, fazendo-os sentir que ainda tem muito a dar à comunidade”.

Nestas recolhas, que Anabela Cardoso conhece bem e faz com regularidade, nem tudo é fácil: “antes de se chegar a estas pessoas, mais idosas, é preciso ganhar a sua confiança para que elas contem as coisas, como as aprenderam e como as viveram”, começa por dizer ao Correio do Ribatejo.

Neste trabalho em concreto, Anabela Cardoso recolheu memórias dos mais idosos sobre o 25 de Abril. A ideia, revelou, é compilar posteriormente todo este material para o apresentar nas comemorações oficiais deste ano.

“Foram dias diferentes e as respostas às perguntas que fomos colocando surpreenderam”, revela. “Rimo-nos, mas, ao mesmo tempo, observamos que eram vidas extremamente difíceis e duras e que, agora, as gerações mais novas, nem sequer conseguem perceber como era possível trabalhar do nascer ao por do sol, todos os dias”, constata.

Um desses relatos, do Sr. Joaquim, pastor de profissão, que veio do Alentejo para a vila de Constância, ainda muito novo, “impressionou” pelo realismo das descrições.

“Ele veio já com a mulher e relatou-me uma vida muito dura, parca em oportunidades. Tinha 500 ovelhas a seu cargo, as quais ordenhava, fazia queijo… uma actividade muito mal paga, muito mal vista em termos de importância social, um trabalho que não tinha tempo livre, nem sequer para namorar (risos)”, contou.

Anabela Cardoso faz a recolha destes testemunhos em áudio e vídeo para que todo este saber, vivências e memória não se perca: “são conhecimentos extremamente relevantes e que não estão a ser passados. Eu tento fixar essas experiências para que não se percam para sempre na voracidade do tempo”, afirma.

O objectivo passa, assim, por manter vivas as tradições locais e os antigos saberes, recolhendo, conservando e divulgando o património cultural Imaterial do concelho de Constância, à medida que se vai reforçando “a identidade do território e perpetuando o conhecimento dos mais antigos junto das gerações mais novas”.

Algum deste trabalho foi vertido recentemente no livro “Tradição Oral do Concelho de Constância”, uma recolha imaterial feita junto da população mais idosa naquele território.

“Há muito património que não está, obviamente, escrito. Há muitas coisas que passavam de pais para filhos, e por aí fora, que, se não forem registados, podem perder-se com o desaparecimento da população mais velha”, reforça Anabela Cardoso que, para aquele projecto “chamou” para a recolha os alunos do 5º e 6º anos de escolaridade das escolas de Constância.

A ideia seria eles fazerem as recolhas deste património imaterial nas suas terras, junto de quem sabia “contar as adivinhas, as rezas, os responsos, as lendas, os trava-línguas, os provérbios”.

Um conjunto de informação que era preciso registar em áudio para depois passar ao papel: “contar para ficar registado, pois, nalguns casos, como as cantigas, se elas não entoarem a cantiga não se conhece a melodia”, explicita.

Anabela Cardoso revelou que este foi um trabalho profícuo e que deixou, com toda a certeza, marcas positivas nos alunos. Haverão de se recordar destas coisas que ouviram e, quem sabe, “venham contá-las aos seus filhos ou netos”.

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