A semana que está prestes a terminar começou com ameaças de um novo e generalizado confinamento para fazer face aos números dramáticos que temos vindo a registar.
Mitigar a propagação da pandemia é, mais do que nunca, um imperativo, agora que colhemos os “frutos” de um aliviado comportamento natalício e de final de ano que multiplicou os reencontros mas também os contágios.
Na passada semana desfizemos o presépio mas desta vez confinámo-nos também como as figuras. Na caixa de cartão depositámos Maria e José, o Menino Jesus na cama de palhinhas, os Reis Magos nos seus camelos, a vaca, as ovelhas e os burros que fomos ao pensar que o mal só acontece aos outros.
Basta uma passagem breve pelas redes sociais e logo percebemos que há ainda quem não acredite que este é um desígnio individual em proveito do colectivo.
Em apenas meia dúzia de dias, o número de casos quase repetiu os dez mil a cada 24 horas, valores mais do que suficientes para o não menos previsível confinamento geral (no dia em que escrevo este texto a decisão ainda não tinha sido tomada).
Um novo confinamento trará, à imagem do sucedido em Março e Abril, dias negros para a vida das nossas empresas que ainda não recuperaram de um 2020 que deixou marcas.
Para muitos, nova paragem será a estocada final na sua actividade. Vão ficar pelo caminho arrastando para o desemprego milhares de colaboradores, nomeadamente da restauração, até porque o governo já admitiu que as novas restrições podem passar pelo encerramento do sector e do comércio não alimentar.
Serão essenciais novos apoios a essas actividades, alguns ainda beneficiários do apoio a uma retoma adiada sine die.
Mas haverá também de envolver os hospitais privados, controlar melhor as fronteiras e garantir que ninguém entra em Portugal sem o teste negativo à Covid-19, sob pena de continuarmos, sem rei nem roque, a receber imagens de ajuntamentos em cafés e praças, transportes públicos lotados ou miúdos sem máscara à porta das escolas.
Haverá ainda quem defenda que as escolas permaneçam a funcionar? Algumas delas em condições desumanas para alunos e professores obrigados a estar nas salas de “janela aberta” enrolados em cobertores com as temperaturas que temos vivido nas últimas semanas?
2021 colocou os serviços de saúde sob pressão, os seus profissionais e os hospitais no limite da sua capacidade num início de ano que teima em prolongar o que em 2020 não deixou saudades.
João Paulo Narciso
Texto publicado originalmente in ‘CORREIO DO RIBATEJO, SEXTA-FEIRA, 15 de JANEIRO de 2021’