Monumental “Celestino Graça” – 16 de Março de 2024 – 16 horas – Corrida à Portuguesa, integrada na Festa de S. José. Cavaleiros: António Ribeiro Telles, Manuel Telles Bastos, João Ribeiro Telles, António Ribeiro Telles (Filho) e Tristão Telles Queiroz, que tomou a alternativa; Forcados: Amadores de Santarém e do Aposento da Moita do Ribatejo, capitaneados, respectivamente, por Francisco Graciosa e por Leonardo Mathias; Ganadaria: Herdeiros de David Ribeiro Telles – 590, 540, 590, 560, 560 e 610 kg.; Director: Manuel Gama Barros; Veterinário: Dr. José Luís Cruz; Entrada de Público: ¾ da Lotação; Tempo: Agradável.

Santarém vibrou uma vez mais, em tempo de Festa de S. José, com as afamadas tradições taurinas, quase enchendo a Monumental “Celestino Graça”, cuja lotação ronda os 11 mil lugares. A tarde estava muito amena e o ambiente era extraordinário, antecipando aquela que seria uma memorável tarde de toiros.

De facto, não é todos os dias que se pode apreciar uma corrida de toiros com cinco toureiros da mesma família, e – talvez nem seja por acaso – todos num plano técnico e artístico superior. Para tal muito contribui a proximidade de todos em relação a um conjunto de desígnios comuns, desde o respeito pela memória do fundador da dinastia à convivência muito frequente no mesmo espaço físico, a Torrinha, que a todos faz evocar as primeiras lições do saudoso Mestre David Ribeiro Telles, e após o seu infausto falecimento, dos seus sucessores mais ilustres nesta matéria.

Esta tarde escalabitana ficará marcada para todo o sempre pela alternativa do mais jovem dos marialvas desta ilustre Família, Tristão Telles Queiroz, a quem se augura um tão promissor futuro nas nossas arenas, pois descende de duas figuras imensas da nossa Tauromaquia – Mestre David Ribeiro Telles, seu avô materno, e D. Eduardo Guedes de Queiroz, Conde de Cabral, seu avô paterno. Só assim já teria tudo para dar certo, porém juntem-se agora os tios e primos que tanto têm honrado os pergaminhos da Torrinha há quase meio século nas mais exigentes praças nacionais e, em alguns casos, estrangeiras também.

Pena foi que os toiros da prestigiada ganadaria de Herdeiros de David Ribeiro Telles não tivessem saído com mais codícia, com mais força e transmissão, pois a corrida estava muito bem cuidada de apresentação, e em alguns casos tiveram de ser os toureiros a ajudá-los, não se recortando muito, nem carregando mais as sortes. Para lidar toiros assim, exige-se muito saber, o que, mais do que parece, é fundamental ao ofício de um bom lidador.

Por especial deferência de António Ribeiro Telles, entre os presentes o mais antigo de alternativa, foi seu sobrinho João Ribeiro Telles que apadrinhou o jovem Tristão, cedendo-lhe a lide do primeiro toiro da corrida. Como se calcularia esta foi uma emotiva cerimónia, tão intensos são os laços que os unem e as memórias que acalentam há tantos anos nestas andanças tauromáquicas.

Tristão Telles Queiroz envergava a mítica casaca de veludo azul que seu avô Mestre David usou na sua alternativa, e que tem sido usada por todos os cavaleiros da Casa em idênticas circunstâncias. É uma espécie de talismã que une ainda mais esta Família. Como cumpre, Tristão iniciou a sua lide a arriscar tudo, com uma sorte de gaiola, no entanto, a forma como o toiro investiu não lhe permitiu colocar o ferro da melhor maneira, não tendo, por isso, desfraldado a bandeira alusiva a esta alternativa. Nem tudo saiu na perfeição, especialmente com a ferragem comprida, porém com os curtos, e já menos emocionado, Tristão deu a justa imagem do seu potencial, cravando vistosa ferragem a culminar sortes poderosas, que o conclave aplaudiu com alegria. Não terá sido a lide sonhada, mas como diz o rifão taurino o toureiro põe e o toiro dispõe… 

O toiro que coube em sorteio a António Ribeiro Telles tinha pouco som, pelo que foi o prestigiado toureiro que teve de porfiar muito para desenhar uma lide muito meritória, com uma ou outra passagem em falso, por falta de toiro na reunião, o que reduz o impacto das sortes. Como já tantas vezes tenho escrito, são estes toiros que nos permitem aferir a competência dos toureiros, pois neste caso há todo um cuidado na escolha dos terrenos, no acerto das distâncias e nos remates das sortes, que não está à medida de qualquer um. António Ribeiro Telles é um dos toureiros que tem sempre recursos para todos os toiros, o que encanta até os mais exigentes aficionados, que lhe reconhecem capacidades de excelência.

Manuel Telles Bastos é, talvez, um dos cavaleiros da Torrinha que melhor interiorizou os conceitos e as maneiras de seu avô David, pugnando sempre por um classicismo irrepreensível, expresso com eloquência nas abordagens ao toiro e na forma recta como cita e coloca a ferragem. Nem sempre os toiros lhe consentem esta atitude, como foi o caso nesta tarde em que a matéria-prima lhe dificultou o labor técnico e artístico, ainda assim, aquilo que nos mostrou é bastante para nos animar a ir vê-lo brevemente noutra praça do nosso país, onde, quiçá, possa ter mais sorte com o seu oponente. Tal como seu tio António, Manuel Telles Bastos tem sempre detalhes preciosos.

O quarto toiro da corrida foi lidado por João Ribeiro Telles, talvez uma das maiores figuras da sua geração, e que tem o mérito de conciliar o conceito clássico do toureio marialva com um conjunto de adornos e atitudes enriquecidos pela sensibilidade estética que apreendeu de seu pai, que igualmente foi grande figura no seu tempo. Recebeu o seu toiro em sorte de gaiola, que resultou muito emotiva, e prosseguiu dentro do seu estilo valoroso e sério. O toiro que tinha pela frente não o ajudava, mas João não desistia de sacar o triunfo que sempre persegue. Montando o seu valioso “Ilusionista”, João Ribeiro Telles quis fazer magia, como é seu hábito, mas teve de arriscar uma imensidão para colocar dois poderosíssimos ferros com o toiro fechado em tábuas, o que constituiu um dos momentos mais altos da corrida no que concerne ao toureio equestre. Apesar de tudo, recusou dar a volta à arena, posto que no seu critério não estava satisfeito com a sua lide. Muito bem!

António Ribeiro Telles (Filho) enfrentou o mais colaborante toiro da tarde. O quinto, que talvez tenha feito jus ao rifão, segundo o qual “no hay quinto malo”! Não era, apesar de tudo, um toiro bravo, mas investia com mais codícia e o jovem marialva bem soube aproveitá-lo para sacar um apreciado triunfo. Alegre e comunicativo, António estabelece sempre uma agradável empatia com o público, o que também o anima e estimula para pôr mais carne no assador. Cultivando as regras do toureio frontal, citando recto e tentando reunir nos terrenos do toiro, António rubricou belos pormenores de toureio, embora um ou outro ferro tenha resultado algo aliviado, posto que o toiro não acudia com o ímpeto necessário. Boa actuação do jovem António Ribeiro Telles.

Tal como anunciado, e tinha sucedido nas duas anteriores corridas em que actuaram estes cinco cavaleiros, o último toiro foi lidado por todos, todavia, porque era a corrida de alternativa de Tristão Telles Queiroz e o toiro que lhe coube lidar não saiu de modo a permitir-lhe o triunfo desejado, a Família permitiu-lhe cravar a ferragem comprida e mais dois curtos, após o que todos entraram na arena e, à vez, cada um colocou um ferro curto, antecedido da preparação harmoniosa e contagiante que tanto empolgou o respeitável público, que lhes tributou calorosas e justas ovações. Uma autêntica apoteose!

Para pegar estes corpulentos toiros estiveram em praça dois valorosos Grupos de Forcados que tiveram o condão de não dificultar ainda mais o que não se antevia fácil, e lograram consumar quatro pegas ao primeiro intento e apenas duas ao segundo, destacando-se a galhardia dos forcados da cara e o empenho e a coesão das ajudas.

Pelos Amadores de Santarém, no início da sua 110.ª temporada, foram solistas Joaquim Grave em boa pega à segunda tentativa, Francisco Paulos que consumou rija e hábil pega, à primeira, e Francisco Cabaço que concretizou uma excelente pega, também numa única tentativa.

Pelo Aposento da Moita do Ribatejo foram solistas João Freitas e Luís Canto Moniz, que consumaram duas valorosas pegas ao primeiro intento, bem ajudados, e o Cabo Leonardo Mathias que, depois de ter sido desfeiteado numa muito boa tentativa, de que resultou ligeiramente magoado, se fechou depois, à segunda, numa pega enorme, de querer e de poder.

Os peões-de-brega estiveram em bom plano, coadjuvando as lides com sobriedade e correcção, e os campinos da Casa Manuel José da Úrsula desempenharam-se com a habitua eficácia.

O Delegado Técnico da IGAC Manuel Gama Barros dirigiu com acerto e competência, tendo sido assessorado pelo veterinário Dr. José Luís Cruz.

Após as cortesias todos os cavaleiros foram aos médios acompanhar Tristão Telles Queiroz que foi obsequiado com algumas lembranças, nomeadamente da Associação “Sector 9”, da Dr.ª Fernanda Velez, deputada na Assembleia da República, e do Grupo de Forcados Amadores de Santarém.

Enfim, foi-nos dado assistir a uma agradável corrida de toiros, que teve bons detalhes técnicos e artísticos, alguma emoção e um ambiente extraordinário. Parabéns e muitas felicidades ao jovem “doutorado” e até Junho, pela Feira do Ribatejo.

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