Mourão – Praça Dr. Libânio Esquível, 1 de Fevereiro de 2020, às 15 horas. Festival Taurino Misto, por ocasião dos Festejos em Honra de Nossa Senhora das Candeias. Cavaleiros: Manuel Ribeiro Telles Bastos e João Salgueiro da Costa; Matadores: Manuel Jesus “El Cid”, Juan Leal, Juan Ortega e João Silva “Juanito”; Grupo de Focados Amadores da Póvoa de São Miguel, capitaneados por André Batista; Ganadaria: Murteira Grave; Direcção: Agostinho Borges, com assessoria de Dr. Matias Guilherme. Tempo Agradável; Lotação esgotada.

Tarde bonita, sem sol, mas sem frio, excelente ambiente em torno da praça, com alguns grupos de aficionados a merendarem em sã e franca confraternização, oferecendo de comer e de beber a quem passava, lotação esgotada e muita gente que mesmo sem ter conseguido adquirir bilhete por ali permanecia, usufruindo daquela tão agradável ambiência. Belo prólogo de uma jornada inaugural de temporada taurina, que nos permitiu matar saudades dos amigos com quem tantas vezes nos cruzamos por essas praças do país. Depois, veio o Festival…

Os novilhos, díspares de apresentação, de idade e de comportamento, saíram na linha do que é habitual nesta praça, que, a meu ver, é escasso para a importância do evento, pois, saíram alguns novilhos pequenotes, com pouco mais de dois anos, devendo ter-se em consideração que os novilhos foram lidados por cavaleiros de alternativa e por matadores de toiros, e que o público paga um bilhete a preços iguais aos da maioria das nossas praças. O segundo novilho foi devolvido aos currais, mau grado os gestos de discordância do ganadeiro, que também era “empresário”.
Contra o que é hábito, mas, certamente que por acordo entre os toureiros e com a aquiescência do Delegado Técnico da IGAC, o espectáculo consistiu numa primeira parte com o toureio a pé e a segunda com as duas lides a cavalo.

Assim, abriu praça o matador Manuel Jesus “El Cid”, que aproveitou bem o novilho que teve pela frente, construindo uma actuação muito meritória. Lanceou vistosamente o capote, sem poder dar maior extensão aos lances, e, após um regular tércio de bandarilhas, a cargo da quadrilha, viu-se com muito agrado em vistosas tandas por ambas as mãos.

O segundo novilho foi devolvido, por falta de força, tendo caído diversas vezes, e Juan Leal enfrentou o sobrero que lhe proporcionou uma agradável actuação. Lanceou vistosamente o capote e desenhou uma faena com diversas séries, interessantes, embora talvez a tivesse prolongado em demasia, daí resultando que o novilho viesse a menos e, claro, a faena também.

Juan Ortega enfrentou um novilho menos colaborante do que os anteriores, situação ainda mais difícil devido ao facto de o matador ter de dosear muito bem os seus movimentos para evitar que o novilho caísse mais vezes. Ainda assim o diestro sevilhano alardeou faculdades em ambos os tércios, merecendo ovações alguns dos seus expressivos muletazos.

João Silva “El Juanito” viria a consagrar-se em plano de triunfo. Coube-lhe lidar o maior novilho dos que foram lidados a pé e tinha mais um ano, circunstância que acabou por dar mais importância ao labor do jovem matador de Monforte. Vistoso e elegante com o percal, impregnando de perfume as bonitas verónicas, e mandão e poderoso com a flanela, “El Juanito” confirmou as qualidades que já lhe apontámos no ano passado, ainda de novilheiro em Mourão, e no Campo Pequeno, onde também triunfou. Nesta tarde destacou-se da concorrência, embora sendo o mais novo e o menos placeado.

Depois, veio a polémica da tarde. Perfeitamente escusada, convenhamos. O piso da arena, apesar de não estar encharcado, estava escorregadio, pois, deveria ter sido gradada alguns dias antes para poder secar, mas como não foi, a humidade não evaporou e, claro, estava escorregadia. Esta situação deveria ter sido acautelada antes do início do Festival e o tractor poderia andar ali largos minutos a melhorar o piso. Tal não aconteceu e quando o Delegado Técnico da IGAC (Director de Corrida) deu instruções para o tractor recolher, o cavaleiro Manuel Telles Bastos, montado à entrada da arena, impedia que o tractor saísse, gesticulando a mandar o tractorista prosseguir, o que gerou enorme alarido, pois, ninguém se entendia. A coisa ainda durou alguns minutos, e quando, finalmente, o tractor saiu, entrou o cavaleiro que de imediato se dirigiu ao Director, em modos pouco senhoris, a manifestar a sua discordância em relação à sua decisão, proclamando o Director que quem mandava ali era ele. E é, de facto, à luz do Regulamento! Assobios, a favor de um, assobios contra o outro, enfim, uma “tourada” das antigas, tão bem evitável.

Estes episódios não abonaram nada a favor de Manuel Telles Bastos que não andou tranquilo e desenvolveu uma lide pouco consentânea com o que lhe é habitual, e que nós tanto apreciamos. Da sua lide do novilho, que até nem saiu mal, pouco retemos para memória futura, embora não apreciássemos a sua conduta pouco elegante.

A fechar o Festival actuou o cavaleiro João Salgueiro da Costa que enfrentou um bom novilho, frente ao qual expendeu bastos argumentos técnicos e artísticos que suscitaram fortes ovações do respeitável público. Citando de frente na maioria das sortes, colocou vistosa ferragem, a pisar terrenos de compromisso e a transmitir muita alegria para as bancadas. Muito bem.
O Grupo de Forcados Amadores da Póvoa de São Miguel consumou a primeira pega da tarde apenas à quarta tentativa, e em sorte sesgada, por intermédio de Albino Martins, que dobrou Rúben Torrado, que saiu desfeiteado na sua segunda tentativa. O último novilho foi pegado ao primeiro intento por Fábio Caeiro.

No final do Festival, a Banda Filarmónica Mouranense entusiasmou o público com a interpretação de alguns bonitos Pasodobles, muito aplaudidos por todos, gerando uma agradável apoteose, que contribuiu para dissipar algumas coisas menos agradáveis a que ali assistimos.

Ludgero Mendes

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