A União Desportiva de Santarém (UDS) completou 55 anos de existência na passada sexta-feira, dia em que defrontou a Académica no estádio Cidade de Coimbra.
Nesta entrevista ao ‘Correio do Ribatejo’, o presidente da Direcção, Pedro Patrício, explica o trabalho “difícil, mas ao mesmo tempo muito gratificante” de formar uma equipa num curto espaço de tempo.
Espera que a equipa garanta rapidamente a manutenção na Liga 3 e salienta o “incrível crescimento da ligação dos nossos adeptos e dos ribatejanos na sua globalidade, com a UDS”.
Nesta entrevista, Pedro Patrício recorda as épocas de glória do clube, entre outras as de 1974/75 e 1984/5, com dois campeonatos da III Divisões conquistados, mas também os dias “mais negros, entre 2007 e 2013, podendo ser estendidos até ao ano da constituição da SAD, um acontecimento determinante na estruturação e transparência financeira do clube”, sublinha.
“É muito importante sabermos o caminho para onde vamos, mas não podemos esquecer nunca de onde viemos”, afirma, deixando a mensagem final de que “Santarém unida e forte, estará mais perto de estar no topo do Desporto Nacional”.
“É um privilégio para nós, fazermos parte do presente da UDS e ter a oportunidade de construir o futuro, com os pés no chão e olhos nas estrelas”, conclui.
Quis o calendário que a União Desportiva de Santarém fosse a Coimbra defrontar a Académica no dia em que assinalou o seu 55º Aniversário. Como vê este início de campeonato na Liga 3?
A Liga 3 é muito forte e equilibrada, em nada inferior em termos de competitividade à Liga 2. Basta ver o histórico de jogos para a Taça Portugal entre clubes de Liga 2 e da Liga 3, para percebermos esse equilíbrio. Arrancámos muito bem, com 2 vitórias, 6 pontos em 3 jogos.
No próximo Domingo, dia 1 Setembro [17h30], temos um jogo muito importante no Chã das Padeiras, com o Caldas, onde contamos novamente com um apoio muito forte dos nossos adeptos, como nos dois jogos já realizados em Santarém, com o Atlético e com o Sporting.
A participação na Liga 3 foi oficialmente confirmada no dia 8 de Julho, em resultado de um processo de conformidade com os regulamentos da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), bem como do cumprimento dos requisitos financeiros exigidos. Como foi possível em menos de um mês montar uma equipa para a Liga 3?
Estávamos há algumas semanas a trabalhar para o plano A (Liga 3) ou plano B (CP), mas como é evidente, todo este processo de notificações, recursos, condicionou o início da época da nossa equipa sénior. Foi um trabalho difícil, exigente, mas ao mesmo tempo foi muito gratificante. Trabalhámos 16h/dia, em conjunto com a equipa técnica e com a estrutura de futebol, na identificação “cirúrgica” de jogadores que poderiam trazer qualidade ao plantel e na negociação com os agentes, empresários, outros clubes e federações internacionais.
Outro aspecto importante foi a contratação de jogadores de qualidade e naturais de Santarém, para fortalecer a ligação com a própria cidade e identificação com o clube.
Por outro lado, conseguimos garantir a continuidade de jogadores da época anterior, que tivemos interesse em manter. Aos que não continuaram, agradecemos e desejamos as maiores felicidades nas suas carreiras. Tudo isto dentro de um criterioso e exigente orçamento para o futebol sénior.
A presença na Liga 3 marca um novo capítulo na história do clube, que tem vindo a trabalhar arduamente para alcançar este patamar competitivo. Até onde pode chegar este União? O objectivo, já assumido, de chegar à Liga 2 é possível a curto prazo?
É um novo capítulo, de um caminho iniciado em 2017, e com uma história desde 1969. Quanto mais rápida for garantida a manutenção na Liga 3, melhor. Temos uma grande ambição e a convicção que podemos estar entre as 10 melhores equipas em Portugal, até 2030. Não é uma utopia, é uma convicção pessoal muito forte.
Queremos muito ganhar. Ganhar! Ganhar cada jogo. Esta vontade de ganhar está a ser enraizada nos atletas da formação, a partir dos 4 anos. Temos feito um grande trabalho na formação, também nesta vertente. Quem trabalha na UDS, seja qual for o escalão, seja jogador, treinador, staff, entre outros, todos têm de querer sobretudo ganhar!
O clube procura articular-se com as chamadas “forças vivas da cidade”. Essa intenção tem encontrado retorno?
Antes de mais, o nosso agradecimento à Câmara Municipal de Santarém, à empresa municipal Viver Santarém, à junta de freguesia da União das Freguesias da Cidade Santarém, à P.S.P, aos Bombeiros,e a outros, que nos apoiam e com quem trabalhamos diariamente. Este ano foram realizadas obras de melhoramento do Campo Chã das Padeiras, foram muito importantes.
O projecto da CMS/Viver Santarém passa por continuar esses melhoramentos e uma intervenção profunda na nossa academia, na Ribeira de Santarém, urgente, onde treinam e jogam centenas de jogadores da nossa formação – o coração do clube.
Por outro lado, o interesse dos órgãos de comunicação social regional e nacional tem crescido. A ligação a empresários, indústria, restaurantes que nos apoiam e sponsor tem sido ampliado.
No entanto, se todos na região do Ribatejo quiserem um clube no topo do futebol português, têm que criar maior envolvimento e participação. Estamos a trabalhar nesse sentido.
A grandeza de um clube mede-se, não só, mas também, pelo número de sócios.
O que tem vindo a ser feito para mobilizar Santarém em redor do crescimento do clube?
Tem sido incrível o crescimento da ligação dos nossos adeptos e dos ribatejanos na sua globalidade, com a UDS. A presença de público nas bancadas do Chã das Padeiras tem crescido, fruto de muito trabalho de promoção de jogos, de várias iniciativas por parte do clube (e também de vitórias).
Obrigado a todos os que nos apoiam, sejam os jogos em Santarém ou fora. No entanto, não chega, queremos ter sempre o Chã das Padeiras cheio de vermelho e branco. Temos crescido em número de sócios e simpatizantes. Temos crescido bastante em número de seguidores e fãs. Hoje em dia, as redes sociais dos clubes são catalisadoras da força e mobilização de mais adeptos. Não posso deixar de agradecer também à nossa claque, sempre presente em todos os jogos em Santarém ou fora, com um apoio e uma paixão extraordinária pela UDS.
Um dos seus objectivos quando tomou posse era trabalhar junto dos restantes clubes da cidade e até do distrito no sentido de tornar o Ribatejo mais competitivo em termos de formação de atletas.
O União poderá assumir-se, no futuro, como a ‘bandeira’ de um distrito em Ligas profissionais?
Sim, pode (e deve!). A União de Santarém pode ser a União dos vários clubes do concelho e região do Ribatejo, não perdendo cada clube a sua própria identidade local.
Santarém é uma cidade com um posicionamento geográfico ímpar. Estamos a crescer muito em termos demográficos, há cada vez mais estudantes em Santarém ou jovens que vivem em Santarém e que trabalham em Lisboa. Seja qual for a decisão do novo aeroporto, estamos situados a poucos minutos de ambas as soluções: Santarém ou Alcochete (que na realidade é em Canha, Benavente). Em Santarém passam todas as grandes vias rodoviárias (A1, A13, A15, A23…) e ferroviárias. Temos o maravilhoso Rio Tejo para explorar.
E temos o mais importante: as pessoas! Já temos uma restauração de alto nível nacional. Estamos a desenvolver muito bem a hotelaria e indústria. Falta uma equipa de futebol profissional no Ribatejo, nas ligas profissionais, que não obrigue os jovens ribatejanos do concelho a terem que emigrar para outros países ou zonas nacionais, para serem profissionais de futebol, como acontece actualmente.
Agora, precisamos da ajuda de todos, entidades municipais, indústria, sponsors, sócios, adeptos e seguidores, porque sabemos o caminho certo.
Estamos felizes por cumprir outro dos objectivos da Direção do clube, Conselho Administração da SAD e Direção Técnica da formação – a criação do futebol feminino na UDS.
O Pedro Patrício foi atleta do clube, ainda faz alguns jogos nas ‘velhas-guardas’, que análise faz da trajectória do União, ao longo destes 55 anos, desde a fundação do clube, em 1969, a partir da fusão de “Os Leões” com a União Operária, até aos nossos dias. Quais foram, no seu entender, os anos de maior glória e os mais negros que clube viveu?
Acreditamos que o melhor ainda está para acontecer. No entanto, os anos de maior glória do futebol sénior, foram nas épocas em 1974/75 e 1984/5 com dois campeonatos da III Divisões conquistados e algumas subidas à II Divisão. Importa recordar os dois campeonatos ganhos no futebol distrital nas épocas 2017/18 e 2018/19. E duas Taças Ribatejo em 1978/79 e 2018/19. Nos anos 80 também tivemos algum sucesso no atletismo e no ciclismo.
Os anos 90 foram claramente de ouro para o basquetebol da UDS. E nos anos 90 também tivemos prestações e títulos interessantes na ginástica. Considero também as subidas à Liga 3, um marco importante na história do clube.
Os mais negros, diria, entre 2007 e 2013, podendo ser estendidos até ao ano da constituição da SAD, um acontecimento determinante na estruturação e transparência financeira do clube.
É muito importante sabermos o caminho para onde vamos, mas não podemos esquecer nunca de onde viemos.
E estamos gratos a todos os que trabalharam na UDS e ajudaram a desenvolver o clube nestes 55 anos. Em Março fizemos uma bonita homenagem a todos os Presidentes da UDS ainda vivos, num profundo agradecimento a todos os órgãos directivos que trabalharam em prol da UDS, a todos, sem excepção e incluindo os que infelizmente já não estão entre nós. É um privilégio para nós, fazermos parte do presente da UDS e ter a oportunidade de construir o futuro, com os pés no chão e olhos nas estrelas.
Recentemente admitiu que “falta acordar a região do Ribatejo para apoiarem o União de Santarém”. É decisivo para o clube, a curto prazo, cumprir com o lema inscrito nas camisolas ‘Ex Uno Virtus’ – “Na União é que está a virtude”? É essa a mensagem que quer passar neste 55.o Aniversário?
Os clubes do concelho de Santarém e da região do Ribatejo, seja qual for a modalidade, devem estar cada vez mais unidos.
Há pouco “trabalho de equipa” entre clubes. Este aspecto foi o que mais me impressionou desde que sou Presidente da UDS. É um aspecto, que todos temos que trabalhar mais e melhor.
Na minha opinião, os clubes formadores devem ser encarados como Património Nacional, porque somos promotores de vida saudável, com a prática de exercício físico nas crianças e adolescentes, dos 4 aos 18 anos.
A organização de um clube é uma autêntica engenharia de processos, alguns bem mais complicados do que se julga. O nível de exigência dos vários intervenientes é muito grande, e ainda bem que o é, porque só assim evoluímos, seja dos jogadores, treinadores, analistas, empresários, agentes, médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, massagistas, nutricionistas, roupeiros, parceiros comerciais, entre outros.
Por outro lado, a força motriz do futebol de formação são também os pais dos atletas, que têm que ser parte integrante do clube. Porque não desenvolvemos só atletas, ajudamos os pais na educação das crianças e na estruturação dos valores, afectos, encorajamento, ambições e carácter.
A mensagem que quero passar no 55.o aniversário da UDS, é que Santarém unida e forte, estará mais perto de estar no topo do Desporto Nacional. Os nossos rivais estão noutros distritos a nível nacional! Estão em Coimbra, Braga, Évora, Aveiro, etc.
Os clubes da cidade como a UDS, Académica Santarém, Vitória Clube Santarém, Santarém Basket, Caixeiros, Scalabis Night Runners, entre muitos outros, devem trabalhar mais em conjunto. Esta cooperação pode ser fomentada pelas entidades municipais, mas deve partir de nós, enquanto líderes de cada clube.
Por outro lado, equipas seniores como a UDS, o Fátima, U. Almeirim, Cartaxo, Torres Novas, Samora Correia, Fazendense, Amiense, entre outros, se trabalharem mais em multidisciplinaridade, a região do Ribatejo será imparável no futebol português.
JPN