A vida de Vicente Batalha cruza-se com todo o percurso da intelectualidade portuguesa do século XX. Actor e promotor cultural, tem dedicado toda a sua vida à difusão da cultura e abraçado a causa pública.

Foi presidente da Junta de Freguesia da sua terra, Pernes [1990/97], vereador na Câmara Municipal de Santarém e membro da Assembleia Municipal de Santarém, tendo também sido presidente do Instituto Bernardo Santareno – dramaturgo que se tem perdido no emaranhado da literatura portuguesa e que tem procurado preservar – entre outros cargos ligados à área da cultura.

Nascido a 18 de Outubro de 1941, em Pernes, onde fez a instrução primária, Vicente Batalha foi criado num ambiente entre a música, o teatro e o cinema, tendo pisado o palco pela primeira vez com 5 anos de idade na ‘Música Nova’, que considera quase como “uma segunda casa”. Desde então, nunca mais parou.

Foi, igualmente, um dos fundadores da Cooperativa de Teatro Popular de Almada e teve várias experiências como actor no Teatro Experimental de Cascais, tendo ainda um percurso vasto ligado à colaboração com a imprensa regional, entre os quais o “Correio do Ribatejo”, e com diversas associações culturais e sociais.

Impulsionador de uma das fases da vida do Grupo Cénico da Música Nova, (entre 1962, 63, 64, regressando em 1968/69), retomou a direcção do Grupo desde 2002 até 2015, impulsionando as actividades culturais e teatrais.

Animador Cultural na Fundação Comendador José Gonçalves Pereira [de 1983/85] com um Projecto Cultural que envolveu toda a Freguesia, nas mais diversas áreas, de 1997 a 2003 e de 2006 a 2012, foi ainda presidente da Direcção da Associação dos Bombeiros Voluntários de Pernes.

Em 1997, é um dos fundadores do Grupo Coral “TERRA NOSTRA”, sob a direcção do maestro José Santos Rosa, cuja actividade ininterrupta durou uma década.

Colaborador da Rádio Pernes, sob a direcção de José Guilherme Paradiz, desde os tempos das emissões piratas até à sua legalização, em 1980, e posteriormente com uma colaboração muito regular em diversos programas de autor.

Em Santarém, fez o Curso dos Liceus, no Liceu Nacional de Sá da Bandeira (1952/59) e frequentou o Curso de Direito nas Faculdades de Direito da Universidade de Coimbra (1961/62) e da Universidade de Lisboa (1962/64).

A 11 de Setembro de 1964, assentou praça como soldado cadete na Escola Prática de Cavalaria de Santarém, onde fez as instruções, básica e especial, tendo sido seleccionado para frequentar o Curso de Operações Especiais (CIOE/Lamego) como aspirante a oficial miliciano, curso que concluiu.

Vice-presidente do Centro Cultural Regional de Santarém durante a década de 90 e vereador da Câmara Municipal de Santarém no mandato 1998/2001, foi também deputado à Assembleia Municipal de 2002/2013.

Presidente do Instituto Bernardo Santareno de 2006/2012, Vicente Batalha foi distinguido com a Cruz de Mérito do Descobridor do Brasil (Pedro Álvares Cabral) pela Sociedade Portuguesa de Heráldica, Medalhística, Cultural e Educacional.

Animador Cultural da Câmara Municipal de Alcanena de Abril 1986 a Dezembro de 1992, aí regressou, a 3 de Fevereiro de 2014, com contrato de prestação de serviços, para coordenar as Comemorações do Centenário do Concelho, passando a desempenhar ainda as funções relativas à programação cultural.

Foi condecorado com a Medalha de Mérito do Município de Alcanena – Grau Ouro, em 8 de Maio de 2015, por ocasião do Encerramento das Comemorações do Centenário do Concelho de Alcanena.

Um militar de craveira

Longe vão os tempos de Angola, onde se encontrava como militar no 25 de Abril, país que ainda acompanhou nos inícios da sua transição para a independência e onde conheceu os grandes nomes da luta angolana. Regressado a Portugal na semana do 11 de Março de 1975, vive o ritmo do Verão Quente, para ser destituído das suas funções no 25 de Novembro.

No Teatro de Operações da Guiné, como alferes, fez uma comissão de serviço (1965/67) no Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG), fazendo parte da Companhia de Cavalaria nº 1483, Sector O, com sede em Bula, e com o desdobramento devido ao agravamento da situação de guerra, passou a ser designado por Sector O1, com sede em São Domingos e foi condecorado com a Cruz de Guerra de 3ª classe, por feitos em combate.

“Foi uma experiência dura, violenta. Mas ficou-me uma lição, que foi a de odiar todas as guerras e a tudo preferir a paz”, confidenciou ao Correio do Ribatejo.

Como tenente, exerceu funções nos Serviços Mecanográficos do Exército (1968/1971). Em 1971, é chamado para o Curso de Capitão, na Escola Prática de Infantaria de Mafra (EPI), findo o qual tira a especialidade de Fotografia e Cinema, nos Serviços Cartográficos do Exército.

Em Angola, em Janeiro 1972, com a patente de capitão, é mobilizado para a Região Militar de Angola, para assumir o Comando do Destacamento de Fotografia e Cinema 3011 e, em 1974, é colocado no Grupo de Cavalaria nº 1, na cidade de Serpa Pinto, tendo-lhe sido atribuído o comando do Esquadrão de Cavalaria 403, com sede na cidade do Luso.

Entretanto, após a Revolução do 25 de Abril de 1974, é eleito para a Comissão do MFA na Zona Militar Leste, tendo sido posteriormente nomeado secretário da Comissão Ad-Hoc para os Meios da Comunicação Social, instalada no Palácio do Governo Geral de Angola, sob o Comando do Alto Comissário Almirante Rosa Coutinho.

Regressa a Lisboa, a seu pedido, em Fevereiro de 1975 e, na sequência dos acontecimentos do 11 de Março é colocado na 5ª Repartição do Estado Maior General das Forças Armadas, primeiro, na comunicação social, e depois, no Centro de Sociologia Militar.

Após o encerramento compulsivo da 5ª Divisão, em 28 de Agosto, é colocado no Regimento de Polícia Militar (RPM) resultante da fusão do Regimento de Lanceiros 2 e do Regimento de Cavalaria 7, sua unidade de origem.

Poucos dias depois da situação decorrente do 25 de Novembro é passado à disponibilidade. O ex-militar acredita que a arte continua a ser uma arma a favor da Paz: “através dela, podemos aproximar os homens e dar outro sentido à vida. Fazer os homens olhar mais para além e ajudar a transformar o mundo, tornando-o mais humano”.

Os diversos palcos que pisou

No teatro, pertenceu a diversos grupos de teatro amador e universitário. A 16 de Janeiro 1970, a convite de Carlos Avilez, e sob sua direcção, estreia como actor profissional no Teatro Experimental de Cascais (TEC) na peça “Antepassados vendem-se” de Joaquim Paço D’Arcos, e participa ainda na peça “O Chapéu de Palha de Itália” de Labiche.

Passa a integrar o elenco da Casa da Comédia, sob a direcção de Osório de Castro, onde participa no espectáculo de homenagem a Valle Inclán, com três peças em um acto.

Mobilizado, entretanto, para Angola, integra em Luanda, os elencos da Companhia de Teatro de Angola (CTA) onde, sob a direcção de António do Cabo, fez a peça “O Processo de Jesus” de Diego Fabri, e do Clube de Teatro de Angola, onde, sob a direcção de Alda Rodrigues e Manuel Alberto Valente, fez a peça “O Cavalo do Caval(h)eiro”, de Carlos Muñiz.

Em Angola interpreta ainda muito teatro radiofónico na Emissora Oficial de Angola (EOA). Após deixar a vida militar, integra o elenco de “Os Bonecreiros”, sob a direcção de Mário Jacques.

Faz cinema, sob a direcção de Francisco Manso, televisão, sob a direcção de Artur Ramos, e teatro radiofónico, sob a direcção de João Lourenço e, em 1977, é um dos fundadores da Cooperativa “Teatro Popular de Almada”, com José Viana, Rogério Paulo, Maria Dulce, Dora Leal, entre outros colegas.

Em 1978, de novo a convite de Carlos Avilez, regressa ao Teatro Experimental de Cascais (TEC), participa na criação do Teatro do Picadeiro, no Monte Estoril, faz digressões à Madeira e, em especial, a digressão ao Brasil (Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Curitiba), em 1980, de Maio a Agosto.

Participa com Ivone Silva e Camilo de Oliveira, entre muitos outros, em espectáculos de variedades e revista, de norte a sul do país.

Em 1980 é eleito pela classe para a Comissão Executiva do Sindicato dos Trabalhadores de Espectáculos (STE), sob a coordenação de José Morais e Castro e tendo Carlos do Carmo como Presidente da Assembleia Geral.

Representou autores como Gil Vicente, António José da Silva, Almeida Garrett, Camilo Castelo Branco, Gervásio Lobato, André Brun, Bernardo Santareno, Orlando Neves, Maria Alberta Menéres, Lope de Vega, Valle Inclán, Carlos Muñiz, Diego Fabri, Witold Gombrowicz, Stanislaw Witkievicz, entre outros.

Em 1983, depois do período de grande actividade profissional e artística, regressa às origens, para a convite do Provedor da Misericórdia, António Leal Lopes, desenvolver um grande Projecto de Animação Cultural, na Freguesia de Pernes.

Uma vida rica que poderá, em breve ficar registada em livro: “Falta-me escrever um livro de memórias com as experiências, percurso de vida: sinto que, por onde passei, deixei algumas marcas”, conclui.

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