A Guerra na Europa é muito perigosa. Voltámos atrás muitas décadas.
Todavia, a resposta da vastíssima maioria dos países à escala planetária, quer na votação altamente simbólica registada na Assembleia Geral das Nações Unidas, quer na pronta e inédita resposta ao nível das sanções impostas ao regime russo, constitui a derradeira prova do decréscimo da propensão mundial para a violência da guerra.
A aversão à guerra é tendencialmente global (salvo as conhecidas exceções) e a Rússia parece quase isolada.

Não tenhamos ilusões: a Guerra que se desenrola na Ucrânia tem uma única explicação: Putin, o seu regime e a sua irracionalidade.

Num artigo de fevereiro de 2015, Vasco Pulido Valente lembrava que a Rússia só pode ser governada em autocracia, dada a sua natureza caleidoscópica de 22 repúblicas, 46 regiões autónomas, 9 territórios, 160 etnias, 100 línguas, 4 grandes religiões e uma enorme variedade de seitas.

Agora, sem legitimidade dinástica ou ideológica, já não é o czar Nicolau II, nem Lenine, nem Estaline, nem Khruschev, nem Brejnev o autocrata, mas “…um antigo membro da polícia secreta e, por consequência, um dissimulador, um mentiroso, um torcionário, e um assassino, que se dá pelo nome de Putin e que preside a uma cleptocracia…”

E invocar em 2022 uma legitimidade imperial é antes do mais, uma irracionalidade.
Segundo Steven Pinker, há várias explicações para a irracionalidade, umas mais superficiais do que outras, mas todas certas.

As três mais profundas, afetam, todas elas, o Presidente da Federação Russa: o “raciocínio motivado”, o “viés do meu lado” e a mistura da realidade com mitologia.
Em primeiro lugar, ninguém o conseguirá convencer de nada, uma vez que se torna extremamente difícil convencer um homem a compreender uma coisa, quando o seu prestígio, dinheiro ou poder depende da sua incompreensão dessa coisa.

Lamentavelmente, este problema afeta muito a humanidade: as pessoas normalmente procuram argumentos que ratificam as suas crenças e “protegem-se” dos que podem falsificá-las.

Em segundo lugar, sabemos bem que as pessoas raciocinam tendo em vista uma conclusão que reforce a correção da sua tribo política, religiosa, étnica ou cultural.
Este sectarismo obviamente sequestra qualquer tipo de raciocínio e até a lógica.
Finalmente, outra zona de pura irracionalidade é o mito nacional.

Putin sente-se um guardião da herança mítica, e não sente sequer necessidade de ir ao fundo daquilo que realmente aconteceu.

As mentiras descaradas e o revisionismo histórico transportaram o discurso político para o terreno da mitologia, ao invés do plano da realidade.

Tal como os enredos das lendas, das escrituras e do drama, são uma espécie de teatro e não importa se são uma falsidade.

Inato ou Adquirido – Pedro Carvalho

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